"O campo não podia mais continuar em guerra, como vimos antes no Governo de [Michel] Temer. O próprio PT [Partido dos Trabalhadores], nos Governos Lula e Dilma [Rousseff], foi recordista em invasões de terra. No Governo FHC [Fernando Henrique Cardoso] também existia isso. Teve uma passagem notória, naquele momento em que invadiram a fazenda do Fernando Henrique Cardoso, esse FHC que está dizendo agora que vai votar no Lula. Cara de pau!", criticou Jair Bolsonaro.
As declarações do atual chefe de Estado foram proferidas durante a sua habitual transmissão em direto na rede social Facebook, na qual apoiou uma nova ocupação das fazendas de Fernando Henrique Cardoso por parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), tal como ocorreu em 2002.
"Dá uma vontade de soltar um dinheirinho para o MST da região da fazenda do FHC, para o pessoal invadir de novo lá. Quem sabe ele aprenda", acrescentou Bolsonaro, lançando ainda ataques a Lula da Silva, que classificou de "ladrão de nove dedos".
Em causa está uma entrevista concedida esta semana pelo ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) ao canal televisivo Globo, na qual admitiu que votaria no seu sucessor no cargo de chefe de Estado, Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), numa eventual segunda volta contra Bolsonaro nas presidenciais de 2022.
Lula da Silva garantiu que não hesitará em candidatar-se às eleições do próximo ano se for o favorito à vitória e tiver "saúde", numa entrevista publicada esta semana na revista francesa Paris Match.
Já Jair Bolsonaro, líder da extrema-direita brasileira e que tomou posse em 2019, também admitiu a possibilidade de se recandidatar, mas ainda não apresentou uma posição oficial.
A transmissão de vídeo de quinta-feira ficou ainda marcada por ataques de Bolsonaro ao Governo francês, o qual acusou de ter "interesses económicos" na recusa em ratificar o acordo entre a União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).
Bolsonaro comentava assim as declarações do ministro do Comércio Exterior da França, Franck Riester, que afirmou aos senadores do país europeu que o Governo, presidido por Emmanuel Macron, não assinará o acordo económico e advogou que a Amazónia não é só dos brasileiros.
"Imagine se eu falo isso, 'nós não vamos assinar o acordo com a UE'. O que iriam falar de mim? É interesse económico. A França concorre connosco em muitas coisas, não vai chegar perto de nós, mas concorre em matérias-primas. (...) Não existe amizade entre nações, existe interesse", declarou o mandatário brasileiro.
Bolsonaro questionou ainda a política de fronteiras abertas de França e sugeriu que parte dos imigrantes que vão para território francês não respeitam as mulheres.
"Sem fazer qualquer crítica à França, mas como está o seu povo a viver com a política de fronteiras abertas? Gente de qualquer lugar do mundo, em especial do norte da África, acabou migrando para lá. Como está a França no momento? Como é que em alguns locais da França as mulheres são tratadas por parte de pessoas que foram para lá?", questionou.
"O Presidente abriu os braços, acolheu todo mundo, 'coisa linda, maravilhosa'. Como é que as mulheres são tratadas por essas pessoas que não têm respeito com mulher? Acham que mulher é um ser de segunda ou terceira categoria", avaliou Bolsonaro, acrescentando que pretende rever a legislação de imigração brasileira.
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