Associação de Cabo Verde denuncia matança de mais de 100 tartarugas
A Associação Ambiental Carreta-Carreta informou hoje que encontrou mais de 100 carapaças de tartaruga marinha numa praia no município de Santa Cruz, interior da ilha de Santiago, em pleno período de desova, e promete reforçar a fiscalização.
© Lusa
Mundo Cabo Verde
"Deparámos ontem, durante um censo realizado nas praias de Mangue, Praia Baixo e Achada Baleia, com mais de 100 carapaças de tartaruga marinha. Devido à sua localização distante da nossa base de apoio e de falta de recursos para manter voluntários para patrulhar, estas praias são alvo constantes desta prática", denunciou a associação ambiental.
Numa nota publicada na sua página oficial na rede social Facebook, intitulada de "matança de tartaruga marinha", a associação referiu que a apanha de fêmeas e ovos nas praias durante o período de desova são uma das principais ameaças à sobrevivência da espécie.
"Apesar de fracos recursos, nos próximos dias vamos reforçar a nossa presença em todas as praias", prometeu a associação, que relembrou que a apanha e consumo de ovos e carne de tartaruga é crime punido com multa ou pena de prisão.
Em conversa com a agência Lusa, o presidente da associação, João Lomba, disse que as carcaças foram encontradas na praia de Mangue, localizada a cerca de 15 quilómetros do centro de Santa Cruz, e são capturas do ano passado e de outros anos anteriores e que são todas as fêmeas.
Perante esta descoberta, garantiu que este ano os membros da associação vai reforçar a fiscalização, montando um acampamento no local, juntamente com elementos da Polícia Nacional e das Forças Armadas.
Em 13 de maio, a associação ambiente anunciou o primeiro ninho da temporada de desova de tartaruga 'Caretta caretta' na praia de Areia Grande, mais perto do centro de Santa Cruz, e onde tem montado o seu acampamento e base de apoio para as suas atividades.
Nesse primeiro ninho, deu conta que tinha 43 ovos, que foram transladados para o cercado de incubação situado próximo da base de apoio aos elementos da associação que desenvolvem o trabalho de proteção da espécie.
"Com este primeiro ninho, um pouco mais cedo do que o habitual, a Associação Ambiental Carreta-Carreta dá início às suas atividades de patrulha com olhos postos em zero caça e uma maior conscientização da população", referiu.
A Associação Ambiental Carreta-Carreta trabalha há 10 anos para proteger as tartarugas marinhas, tendo como base a parte sul da praia de Areia Grande, junto a localidade de Achada Igreja, no interior da ilha de Santiago.
Entretanto, é uma luta que trava contra os caçadores desta espécie protegida e falta de apoios, conforme avançaram à Lusa voluntários, numa reportagem publicada em agosto de 2020.
A legislação cabo-verdiana prevê penalizações para a captura, venda e consumo de produtos derivados de tartarugas, mas na altura o voluntário José António disse que a lei não está a ser cumprida porque ninguém é preso por apanhar a espécie.
O ativista é taxativo e exige pelo menos 10 anos de cadeia para os predadores. "Não é exagerado. Ninguém pode apanhar. Estamos aqui a fazer o nosso trabalho, com sacrifício, sem lucro, sem nada. Se pegarem tartarugas e não são punidos, o nosso trabalho fica sem valor", sustentou.
A população de tartarugas marinhas 'Caretta caretta' de Cabo Verde é a terceira maior do mundo, sendo apenas ultrapassada pelas populações na Florida (Estados Unidos) e em Omã (Golfo Pérsico).
O período de desova desta espécie vai até outubro ou novembro, e a Carreta-Carreta é uma das muitas associações ambientais que vigiam as praias do país para defesa e proteção desta espécie ameaçada.
No ano passado, Cabo Verde bateu o recorde com quase 144 mil ninhos de tartarugas registados em todas as ilhas e notou igualmente uma redução de capturas.
Segundo dados avançados pelo diretor nacional do Ambiente, Alexandre Nevsky Rodrigues, foram registados 143.930 ninhos de tartarugas, mais do dobro dos 60.917 contabilizados no ano anterior.
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