Copa no Brasil? Como "contratar músicos para distrair pessoas em velório"

O epidemiologista José Cássio de Moraes considera que decisão do Governo brasileiro de acolher a Copa América de futebol equivale a uma "tentativa de contratar um conjunto musical para tocar num velório para distrair as pessoas".

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Lusa
05/06/2021 14:19 ‧ 05/06/2021 por Lusa

Mundo

Covid-19

Médico e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), Moraes salientou que o facto de o Brasil aceitar substituir a Argentina como sede do torneio revela uma tentativa governamental de fazer com que as pessoas esqueçam a situação da pandemia de covid-19 no país, que classificou como "bastante dramática".

"É uma conduta estritamente política, podemos chamar de 'politiqueira' e que mostra uma capacidade de decisão do Governo Federal no sentido errado. Demorou meses para pensar em vacinas e em 10 minutos eles decidem trazer a Copa América porque a Argentina desistiu e outros países da América do Sul não têm desejo de sediar", disparou.

Na última terça-feira, o Brasil confirmou realização do torneio em quatro cidades do país, Brasília, Cuiabá, Goiânia e Rio de Janeiro.

A decisão, anunciada na véspera, gerou inúmeras críticas de especialistas, políticos de oposição e parte da população que apelidou torneio de "Cepa América" referindo-se à competição como uma nova estirpe do vírus SARS-CoV-2, que causa a covid-19.

Para Moraes, trazer jogadores, torcedores e pessoas que acompanham as equipas de futebol sul-americanas que disputarão o torneio pode contribuir para espalhar estirpes novas da covid-19 no país assim como poderá, em sentido contrário, levar mutações brasileiras do vírus para os vizinhos da América do Sul.

"Não virão só os jogadores, vem pessoas que acompanham, jornalistas, turistas, para três ou quatro estados. Pode acontecer de eles adquirirem nossa estirpe e levarem para fora ou trazerem estirpes de outros países para dentro" do Brasil, frisou.

"O que a população ganha em trazer uma Copa América para cá? Não ganha nada. O turismo continuará sendo limitado, é diferente da Copa do Mundo (...) Qual benefício que o país tem? Nenhum. Só tem riscos", completou.

Além da reação e das críticas de especialistas, jogadores da seleção brasileira de futebol estão a debater se devem ou não jogar a Copa América em casa e já conversaram com Rogério Caboclo, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) sobre o assunto.

Tite, selecionador da equipa de futebol do Brasil, admitiu numa conferência com jornalistas na quinta-feira, que os jogadores conversaram sobre a Copa América.

"Eles têm uma opinião, expuseram para o presidente [da CBF] e vão expor para o público no momento oportuno", afirmou Tite.

Questionado, o selecionador reafirmou que ele e os jogadores não planeiam fazer qualquer declaração pública sobre a Copa América até o fim da partida contra o Paraguai pelas eliminatórias para o Mundial do Catar de 2022, no dia 8 de junho.

Para o epidemiologista e professor da FCMSCSP, além de não ajudar no combate a pandemia e de representar riscos sanitários, a disputa da Copa América prejudicará ainda mais imagem do Brasil.

"Nos já estamos em uma situação patética. Isto vai ser mais um ponto negativo deste processo de deterioração da imagem do país. Isto vai só acrescentar mais um ponto negro, um ponto de desajuste, de incompetência e falta de preocupação com a saúde da população", concluiu.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo ao contabilizar mais de 470 mil vítimas mortais e pelo menos 16,8 milhões de casos confirmados de covid-19.

Leia Também: Casemiro e a Copa América: "Todos sabem qual é a nossa posição"

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