Uma história silenciosa de migrantes num livro ilustrado de Issa Watanabe
Uma história ilustrada sobre migrações, que é contada sem palavras e que provoca perguntas nos mais novos, é o que propõe a autora peruana Issa Watanabe no livro 'Migrantes', que acaba de ser publicado em Portugal.
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Mundo Migrantes
Em 'Migrantes', o leitor depara-se com um grupo de mais de trinta animais, deslocados do seu habitat, unidos numa caminhada em silêncio rumo a outro lugar, numa travessia por um bosque e, depois, fora de terra, apinhados num barco.
Estes animais deslocados, migrantes, surgem antropomorfizados, com Issa Watanabe a atribuir-lhes características, roupas e pertences dos humanos. Na viagem, amparam-se, entreajudam-se, sofrem em conjunto, e são acompanhados de perto pela morte, desenhada com um rosto de caveira e um manto florido.
Coautora premiada de vários livros ilustrados para a infância, Issa Watanabe nasceu no Peru, em 1980, viveu e estudou em Espanha, perto do mar. 'Migrantes' é a estreia da autora em Portugal, pela Orfeu Negro.
"Quando comecei a fazer o livro, não pensei que seria isto. Não houve uma intenção de fazer um livro sobre migração", afirmou Issa Watanabe, em entrevista à agência Lusa, a partir de Lima, onde atualmente reside e trabalha.
Os primeiros desenhos de 'Migrantes' foram desencadeados por um trabalho do fotojornalista sueco Magnus Wennman, com crianças sírias, vítimas de guerra; e por uma história vivida pela autora em Maiorca, Espanha, com o acolhimento de um migrante do Mali, um dos milhares que chegam à Europa, depois de cruzarem o Mediterrâneo.
Issa Watanabe queria contar aos mais novos o que é a migração forçada, sendo "o mais honesta possível", sem ser condescendente, nem adocicar o tema.
"Ao ser muito honesta, a mensagem devia chegar-lhes de forma não tão violenta. Como construir um relato sobre migração forçada, que pudesse ser mais amável para chegar aos mais novos? Queria contar uma história assim do meu lugar privilegiado", afirmou.
Outra das preocupações da autora era que o tema fosse universal, que chegasse a todas as crianças, independentemente da cultura ou origem geográfica. Daí ter optado por desenhar animais e por ter feito um livro sem palavras.
"É uma história que atravessa os adultos e as crianças. Pode ler-se com um mediador, que possa responder a algumas dúvidas, mas está dirigido sobretudo aos mais novos. (...) O que acontece no livro não está tudo dito, há um espaço para que a criança tenha uma leitura sobre o que é a história", explicou.
Da experiência de apresentação do livro, editado originalmente em 2019, Issa Watanabe percebeu que 'Migrantes' suscita muitas perguntas nos leitores mais novos e provoca empatia, quando estes se colocam no papel do outro.
"A primeira pergunta é 'O que se passa? Porque é que são obrigados a viajar?' [As crianças] começam a dar respostas que se adequam ao lugar de onde vêm. Perguntam o que é que [os animais] levam nas malas e dizem o que é que levariam se fizessem uma viagem", recordou.
Issa Watanabe é filha do poeta José Watanabe e da ilustradora Gredna Landolt, diz que cresceu num ambiente fértil de livros e desenhos, de "imagens poéticas". Vive em Lima com uma filha adolescente e num registo de trabalho de isolamento, que a pandemia acentuou.
"A rotina não mudou muito, porque o meu trabalho é muito solitário e trabalho em casa. Não sou muito social, mas afetou-me muito a nível emocional, sim custou-me muito, custou-me não cair no desânimo. (...) Nestes dois anos foram canceladas muitas viagens e apresentações. Mas não me posso queixar, porque continuo a trabalhar, estou saudável e tenho uma casa", disse.
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