O Governo de Boris Johnson tem prometido um país menos dependente da União Europeia (UE) e mais virado para o resto do mundo, uma visão a que chama de "Global Britain".
A Revisão Integrada da Política Externa, de Cooperação e Defesa, publicada em março, propunha o Reino Unido como uma "nação com uma perspetiva mundial de resolução de problemas e participação nos encargos".
É nesse sentido que o Governo britânico tem procurado pôr no topo da agenda a cooperação na recuperação da pandemia de covid-19, procurando unir a comunidade internacional "para tornar o futuro mais justo, mais verde e mais próspero".
O Governo britânico tem feito esforços para tornar o acesso às vacinas anti-covid-19 mais equitativo, nomeadamente apoiando a vacina Oxford-AstraZeneca, que é vendida a custo reduzido, e financiando o mecanismo Covax, iniciativa liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que visa assegurar vacinas a países de médio e baixo rendimento.
Porém, viu questionada a sua liderança e autoridade moral pelo facto de o Reino Unido ter reservado mais de 400 milhões de doses, o equivalente a 10 doses para cada adulto no país, contribuindo para o "nacionalismo das vacinas", e resistência às propostas para as patentes serem suspensas.
O compromisso com os países mais pobres também foi posto a descoberto nos últimos dias por deputados do próprio Partido Conservador, críticos do corte à ajuda externa decidido de 0,7% para 0,5% para pagar as despesas adicionais com a pandemia de covid-19, o único país no G7 a tomar esta medida.
"Reduzir a ajuda em quatro mil milhões de libras (4,6 mil milhões de euros) e pôr em causa projetos de água que salvam vidas e programas de planeamento familiar nas nações mais pobres é a abordagem errada para o 'Reino Unido Global', criticou o deputado Neil Parish, no parlamento na terça-feira.
Com o objetivo de "intensificar a cooperação entre as nações mais democráticas e tecnologicamente avançadas do mundo", Boris Johnson convidou para participarem na cimeira do G7 os líderes da Austrália, Índia, África do Sul e Coreia do Sul.
Coincidentemente, o Reino Unido está a negociar acordos de comércio com estes países, ou vê neles parceiros-chave nos respetivos continentes.
Ainda assim, o Reino Unido não consegue escapar ao facto de metade do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), serem países europeus, além da presença habitual da UE.
Os dois estão "condenados" a serem parceiros em questões globais e de política externa, disse recentemente o embaixador da UE no Reino Unido, João Vale de Almeida, referindo o alinhamento em questões como a Rússia, China ou Irão.
"Partilhamos os mesmos valores em direitos humanos, estado de direito, democracia, não há diferença entre o Reino Unido e a União Europeia, e isso é um alicerce muito forte para uma cooperação", afirmou.
O antigo primeiro-ministro Gordon Brown considerou, num artigo para o jornal Daily Telegraph, que é na capacidade de ultrapassar divergências para encontrar soluções à escala mundial que assenta a credibilidade do Reino Unido como uma potência internacional.
"O G7 desta semana deve ser a rampa de lançamento de uma versão da 'Global Britain' com a qual todo o país pode se identificar: um Reino Unido cuja liderança em vacinação global, o encerramento de paraísos fiscais, a concretização da neutralidade carbónica e o renascimento do comércio global e do crescimento", resumiu.
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