O presidente russo usou, esta quarta-feira, os protestos Black Lives Matter e o ataque ao Capitólio, nos Estados Unidos, para responder a uma pergunta sobre os seus métodos contra oposição política, no rescaldo da cimeira, em Genebra, com o homólogo norte-americano, Joe Biden.
A repórter da ABC News Rachel Scott questionou o líder russo quanto à perseguição aos seus opositores políticos. "A lista de opositores políticos seus que estão mortos ou presos é longa. E impede que qualquer pessoa que apoie [Alexey Navalny] concorra a cargos políticos. A minha pergunta é: de que é que tem tanto medo, senhor presidente?".
Vladimir Putin descreveu a organização fundada por Navalny, cujo nome nunca proferiu, como "extremista" e disse que apelava a "desordem em massa" e infração da lei. Continuando a ordem de ideias, referenciou os protestos Black Lives Matter e disse que houve "desordem" e "destruição" nos Estados Unidos depois da morte de George Floyd, cujo nome também não vocalizou. Manifestando "simpatia" pelos Estados Unidos, disse que não queria demonstrações semelhantes na Rússia.
This reporter asked Putin what he’s ‘so afraid of’ and Putin proceeded to avoid the question and attack the Black Lives Matter movement pic.twitter.com/sWOVK8ojvF
— NowThis (@nowthisnews) June 16, 2021
A jornalista insistiu: "Não respondeu à minha pergunta, senhor. Se todos os seus opositores políticos estão mortos, envenenados - isso não passa a mensagem de que não quer uma luta política justa?"
Putin evocou a insurreição de 6 de janeiro na sede do Congresso norte-americano, fazendo uma equivalência entre os insurgentes detidos por pilhagem - associados a movimentos de extrema-direita - e os opositores políticos detidos na Rússia. "Sobre quem mata quem ou quem mete quem na prisão, as pessoas foram ao Congresso norte-americano com demandas políticas. Enfrentam penas até 20 ou 25 anos de prisão", respondeu, sublinhando que são chamados de "terroristas domésticos".
Na conferência de imprensa, Putin disse que Navalny recebeu a punição devida por violar os termos de sua liberdade condicional, acrescentando que o opositor estava ciente de que enfrentaria uma sentença de prisão quando regressasse à Rússia. "Ele pediu deliberadamente para ser preso. Conhecendo a sua situação, ignorou a lei e fez o que queria", acrescentou.
Navalny, o inimigo político mais contestatário a Putin, foi preso em janeiro ao regressar da Alemanha, onde passou cinco meses em recuperação na sequência de um envenenamento por um agente nervoso que atribui ao Kremlin, acusação que as autoridades russas rejeitam.
Em fevereiro, Navalny foi condenado a dois anos e meio de prisão por violar os termos da sentença suspensa de uma condenação por peculato de 2014, que negou e garantiu ter apenas uma motivação política.
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