A direção da empresa comunicou a decisão internamente aos seus colaboradores na quinta-feira, depois de ter recebido a notificação da operadora sul-africana, que rescindiu o contrato por incumprimento, segundo uma fonte ligada ao canal.
Tchizé dos Santos, foi uma das investidoras iniciais do canal, mas de acordo com uma fonte contactada pela Lusa, que pediu para não ser identificada, a filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos foi convidada a sair do projeto poucos meses depois do início da operação, "por causa dos seus interesses pessoais e políticos".
"Nunca tivemos nenhuma contribuição da senhora, nunca ninguém a viu por aqui e ninguém estava a trabalhar sob a sua orientação ou agenda, basta olhar para o conteúdo produzido. Mas ficámos pelo caminho por causa dessa infeliz associação", disse a fonte, sublinhando que "quem aqui está [na Vida TV], só queria trabalhar, não quer saber de política".
"A senhora vai continuar rica, como diz várias vezes nas redes sociais e a passear pela Europa e nós vamos voltar para a casa dos nossos pais. Enquanto o país continuar refém do interesse dos políticos, só o povo é que sofre. Infelizmente aqui temos mais um triste exemplo. O ministério, com a suspensão, quis acabar com o canal, já está, conseguiu", prosseguiu.
No dia 21 de abril, o governo angolano suspendeu os canais Record TV África, ZAP Viva e Vida TV, medida justificada com "inconformidades legais", deixando também suspensos os registos provisórios dos jornais, revistas, páginas web (site) de notícias e estações de rádio sem atividade efetiva nos últimos dois anos, cuja lista nunca foi divulgada.
No caso da Record TV África, detida pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) envolvida em várias polémicas e processos judiciais em Angola, o Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS) alegou que a empresa tinha como diretor executivo um cidadão estrangeiro, bem como jornalistas estrangeiros que não estavam acreditados nem credenciados no Centro de Imprensa Aníbal de Melo.
Por outro lado, as empresas fornecedoras de televisão por assinatura, nomeadamente, a TV CABO S.A, a DSTV ANGOLA, SA, a FINSTAR -- detentora da ZAP TV, da empresária e também filha do anterior presidente angolano, Isabel dos Santos, estão devidamente legalizadas, mas "distribuem os canais ZAP Viva, Vida TV e Rede Record sem o registo para o exercício da atividade de televisão em Angola", o que determinou a suspensão.
Na altura, o MINTTICS disse que a sua atuação visava permitir ajustar o processo de atribuição do título de registo definitivo do exercício da atividade às empresas de comunicação social e não deu mais explicações até à data.
Organizações com o Sindicato dos Jornalistas Angolanos e o Instituto para a Comunicação Social da África Austral (MISA-Angola) manifestaram preocupação face a esta decisão, por pôr em causa a pluralidade de informação passou a ser veiculada apenas por canais públicos, controlados pelo estado angolano, e questionaram as leis invocadas para a suspensão.
A antiga deputada do MPLA Tchizé dos Santos afirmou na altura que a medida expunha a "ditadura" de João Lourenço e voltou a queixar-se de perseguição política aos familiares do antigo presidente, ligados a dois dos três canais suspensos (Zap Viva e a VIDA TV).
Leia Também: Angola tem mais de 50 mil refugiados e Governo admite falhas de registo