Governo expressa insatisfação com relatórios "inexatos" de órgão da ONU

O Governo federal da Etiópia expressou hoje a sua insatisfação com o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), acusando os seus relatórios sobre a região de Tigray de serem "inexatos".

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© DUARDO SOTERAS/AFP via Getty Images

Lusa
09/07/2021 21:13 ‧ 09/07/2021 por Lusa

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Etiópia

"O Governo federal tem também a impressão de que as declarações e relatórios da OCHA parecem ter sido redigidos para encorajar e felicitar a Frente Popular de Libertação de Tigray (TPLF), que tem continuado a aumentar a má perceção e levado a comunidade internacional a interpretar mal a situação na região", afirmou numa declaração citada pela agência Efe.

"Também é revelador que o Gabinete continue a referir-se ao grupo fora da lei, que o parlamento etíope classificou como organização terrorista, como a Força de Defesa de Tigray", acrescentou.

Nesse sentido, apelou à OCHA para que se abstenha de emitir declarações "tendenciosas e enganadoras" e tome "medidas corretivas" em breve para "evitar efeitos prejudiciais sobre a cooperação de longa data" que o Governo etíope e a organização construíram desde 1984.

Estas críticas à OCHA surgiram em resposta às acusações de que o Governo federal estivesse a dificultar os voos para a região de Tigray, garantindo que está a assegurar que trabalha em "estreita colaboração" com os trabalhadores de ajuda humanitária, depois da sua declaração de cessar-fogo unilateral, em 28 de junho.

As autoridades asseguraram no comunicado que, apesar de a parte norte do espaço aéreo estar fechada para todo o tipo de voos, anunciaram na segunda-feira passada que irão conceder uma autorização especial para as partes interessadas em prestar serviços humanitários na região, caso cumpram "estritamente" as diretrizes publicadas.

"O Governo declarou claramente que todos os voos do estrangeiro ou dos aeroportos nacionais da Etiópia devem aterrar primeiro no aeroporto de Adis Abeba antes de prosseguirem para Tigray", explicou, ao listar as instruções de voo.

De acordo com a agência noticiosa Associated Press, os voos deverão ser inspecionados em Adis Abeba para assegurar que transportam apenas artigos humanitários.

Segundo a mesma fonte, o Ministério dos Negócios Estrangeiros etíope afirmou hoje também que não rejeitou qualquer pedido para voos de ajuda humanitária após a autorização anunciada na segunda-feira. As Nações Unidas, no entanto, dizem que tais voos ainda não tiveram início.

Uma declaração hoje emitida por Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, referiu que este último e o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, conversaram na quinta-feira para discutir a "extremamente preocupante situação humanitária" em Tigray.

Guterres saudou o anúncio do executivo etíope para a facilitação do acesso à ajuda humanitária e o compromisso de Abiy Ahmed com a restauração, para breve, de serviços básicos essenciais, como telecomunicações e eletricidade.

"O secretário-geral reitera o seu apelo de que todas as partes devem responder às suas obrigações para proteger civis, permitir acesso humanitário sem obstruções e cumprir as leis humanitárias internacionais", refere o documento publicado no portal da ONU.

O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, Prémio Nobel da Paz em 2019, lançou uma intervenção militar em 04 de novembro para derrubar a TPLF, o partido eleito e no poder no estado.

O Exército federal etíope foi apoiado por forças da Eritreia. Depois de vários dias, Abiy Ahmed declarou vitória em 28 de novembro, com a captura da capital regional, Mekele, frente à TPLF, partido que, até à chegada de Abiy Ahmed, controlou a Etiópia durante quase 30 anos.

No entanto os combates continuaram e as forças eritreias são acusadas de conduzirem vários massacres e crimes sexuais.

Em 28 de junho, Adis Abeba anunciou um cessar-fogo unilateral, aceite, em princípio, pelas forças de Tigray.

Na passada sexta-feira, as Nações Unidas alertaram para a deterioração "dramática" da situação humanitária na região, destacando que há cerca de 400.000 pessoas em situação de fome e 1,8 milhões em risco.

Leia Também: Etiópia procura apoio para megabarragem junto de países na bacia do Nilo

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