"Está tudo articulado dentro da SADC", referiu hoje Jaime Neto numa declaração aos jornalistas na cidade da Beira.
"A nível de militares da SADC há um planeamento operacional combinado e, naturalmente" o mesmo tipo de planeamento "bilateral pode ser mais flexível. É isso que está a acontecer neste momento com o Ruanda", disse, para justificar a chegada a Moçambique "muito antes da SADC".
Segundo referiu, tropas ruandesas começaram a chegar por via aérea ao aeroporto de Nacala, no norte de Moçambique, na sexta-feira, enquanto a chegada de uma força de países da África Austral deve acontecer esta semana, na quinta-feira.
"Em relação à SADC há datas fixadas durante a cimeira", realizada no final de junho, em Maputo, "datas que estão a ser cumpridas".
A este propósito, um grupo de quatro oficiais do Botsuana chegou no sábado a Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, para começar a preparar os locais de instalação das tropas e outros detalhes logísticos, acrescentou.
Jaime Neto frisou que "as relações entre Moçambique e a SADC estão a atravessar o melhor momento" assim como "as relações com a África do Sul", dizendo que pode ter havido "problemas de comunicação que resultam de interpretações que suscitam algumas dúvidas" - prometendo passar a dar mais informação para evitar "equívocos".
Na mesma cimeira em que foi aprovada a intervenção de forças da SADC em Cabo Delgado, ficou definido que Moçambique "também era livre de contactar algum país irmão africano".
O Ruanda teve um "contacto formal da SADC para poder intervir militarmente aqui em Moçambique", acrescentou.
A ministra da Defesa da África do Sul disse no sábado que "é de lamentar" que a chegada de tropas do Ruanda "aconteça antes de a SADC ter destacado a sua força".
Nosiviwe Mapisa-Nqakula falava em entrevista à televisão pública sul-africana SABC, referindo que "independentemente do acordo bilateral, seria expectável que a intervenção do Ruanda para ajudar Moçambique acontecesse no âmbito do mandato regional decidido pelos chefes de Estado da SADC".
Ronald Rwivanga, coronel porta-voz das forças militares e de defesa do Ruanda, disse no sábado que o contingente de mil homens, militares e polícias, destacado para Moçambique, só voltará a casa quando o seu objetivo for alcançado.
"O nosso contingente vai apoiar os esforços para restaurar a autoridade estatal moçambicana" em Cabo Delgado, "através da realização de operações de combate e segurança, bem como de estabilização e reforma do setor de segurança", referiu aos jornalistas.
O destacamento "não tem um prazo específico. Em vez disso, tem uma missão específica. Temos uma missão a cumprir e quando estiver cumprida voltaremos para casa", acrescentou, dizendo ser um trabalho a realizar com as forças moçambicanas e da SADC.
Grupos armados aterrorizam a província desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo Estado Islâmico.
Há mais de 2.800 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 732.000 deslocados de acordo com as Nações Unidas.