União Europeia, Estados Unidos, Amnistia Internacional. Todos pedem ao presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, que sejam ouvidas as vozes do povo depois de um fim de semana em que milhares de cubanos saíram à rua em vários pontos do país para protestar contra o governo, reclamando liberdade e melhores condições de vida, num ato de insurreição que não era visto desde 1994.
A reação governamental foi de repressão. Miguel Díaz-Canel exortou os seus apoiantes a saírem às ruas prontos para o "combate". "A ordem de combate está dada, os revolucionários às ruas", afirmou o governante, citado pela agência EFE, numa aparição especial na televisão.
Nas manifestações, que começaram por ser pacíficas, registaram-se entretanto momentos de violência e acabaram por ser feitas detenções, tanto de manifestantes como de jornalistas. A Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH) disse que recebeu informações sobre o uso da força e de agressões e apelou ao governo cubano para respeitar o direito de protesto.
Esta terça-feira, volvidos dois dias, Cuba estará numa "calma tensa", segundo explica a agência Efe, reportando que na segunda-feira os cidadãos acordaram "sem serviço de internet móvel e com forte presença policial nas ruas de Havana". O serviço de internet foi cortado no domingo, a meio do dia, o que tem dificultado a circulação de informações sobre o impacto das manifestações populares.
Polícia à paisana detém um manifestante, em Havana© REUTERS/Stringer
Nas horas anteriores ao corte dos serviços de comunicações por internet móvel, tinham-se multiplicado nas redes sociais denúncias sobre repressão e violência policial sobre os manifestantes deste fim de semana.
Esto envían desde Cuba !! Asi estan las cosas en estos momentos !! #sosCuba #cuba #militaryinterventionnow pic.twitter.com/jfOLlRNHWV
— Isabel (@IsabellaSarAlv) July 13, 2021
Estes foram os maiores protestos anti-governo de que há registo na ilha desde o chamado 'maleconazo', quando em agosto de 1994, em pleno "período especial", centenas de pessoas saíram às ruas de Havana e não se retiraram até à chegada do então líder cubano Fidel Castro.
E porquê agora? Desde o início da pandemia da Covid-19, em março de 2020, os cubanos enfrentam maior escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos básicos, assim como prolongados cortes de energia, o que gerou um forte mal-estar social. As manifestações aconteceram no dia em que Cuba registou um novo recorde diário de contágios e mortos devido à doença.
Que reações já surgiram? A União Europeia apelou esta terça-feira às autoridades cubanas para libertarem "imediatamente" todas as pessoas, manifestantes e jornalistas, detidas nos protestos de domingo contra as autoridades de Havana, uma prática que qualificou como "inaceitável". "Temos conhecimento de relatos não só da detenção de pessoas de opositores e ativistas, mas também de jornalistas. Isto é absolutamente inaceitável", disse o porta-voz da Comissão Europeia para os Negócios Estrangeiros, Peter Stano.
Já na véspera, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, apelou às autoridades cubanas para autorizassem as manifestações e "escutassem" o descontentamento da população, na sequência das manifestações históricas em toda a ilha. No mesmo dia, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, apelou ao regime cubano para "ouvir o povo e responder às suas necessidades", considerando que os protestos em Cuba constituem um "valente exercício de direitos fundamentais".
A Amnistia internacional, por seu turno, condenou a "retórica inflamatória de guerra" do presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, face aos protestos no país e pediu às autoridades de Havana que "atendam às exigências sociais".
Resposta de Miguel Díaz-Canel às críticas internacionais. O presidente cubano fez ontem uma comunicação televisiva em que apontou baterias aos Estados Unidos, acusando o país de desestabilizar Cuba e de procurarem criar condições para uma mudança de regime em Havana. Acompanhado de membros do seu Governo e do Comité Político do Partido Comunista de Cuba, o presidente disse que os protestos que se realizaram no domingo em várias cidades cubanas tiveram como objetivo "fraturar a unidade do povo" e "desacreditar o Governo e a revolução".
Miguel Díaz-Canel acusou os EUA de continuar numa estratégia de "asfixia económica para provocar agitação social" e conseguir uma "mudança de regime" em Cuba, estando por detrás das manifestações de contestação ao regime de Havana.
Díaz-Canel conta com manifestações de apoio do México e da Rússia. O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, rejeitou qualquer abordagem "intervencionista" na situação em Cuba e ofereceu o envio de ajuda humanitária. Na mesma linha, a Rússia criticou qualquer "ingerência estrangeira" na crise social em Cuba.
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