"Perante a presença de variantes que requerem um maior nível de anticorpos neutralizantes para bloquear a entrada do vírus e, possivelmente, a doença sintomática, é recomendável que doses de reforço sejam aplicadas a partir do sexto mês, a contar da primeira dose, para ampliar a quantidade de anticorpos neutralizantes circulantes", indicou Alexis Kalergis, líder do estudo, académico da Universidade Católica e diretor do Instituto Milenio de Imunologia e Imunoterapia do Chile.
A recomendação de uma terceira dose da vacina do laboratório chinês Sinovac Biotech é a principal conclusão do estudo, realizado pela Universidade Católica do Chile, com 2.300 voluntários e apresentado às autoridades do Ministério da Saúde e do Ministério da Ciência na quinta-feira.
Os cientistas comprovaram uma alta eficácia da vacina durante os seis primeiros meses para evitar casos graves e mortes, mas verificaram uma queda de efetividade após esse período.
"Os nossos resultados mostram que, seis meses depois da vacinação, ainda são detetados anticorpos neutralizantes e linfócitos T específicos no sangue dos vacinados, mas os níveis são reduzidos quando comparados com o observado na quarta semana depois da segunda dose", explicou Kalergis.
Durante os seis meses do ensaio clínico, dos 2.300 voluntários, apenas 45, o equivalente a 2% dos vacinados com duas doses, foram contagiados, a maioria de forma leve, com o coronavírus Sars-Cov-2. Somente três pessoas, o equivalente a 0,088%, precisaram de assistência hospitalar. Os três hospitalizados eram idosos com comorbilidades. Não houve mortos.
"Em termos de imunidade, observamos que a vacinação induz à produção de anticorpos capazes de neutralizar o vírus, evitando a doença ou diminuindo a sua intensidade. A produção desses anticorpos em alta quantidade foi observada, na maioria dos casos, entre a segunda e a quarta semana depois da segunda dose", descreveu Susan Bueno, diretora científica do estudo.
Quanto à variante Delta, os testes de laboratório 'in vitro' verificaram uma redução de quatro vezes no efeito neutralizante da vacina chinesa, maior do que a redução de três vezes apontada antes por cientistas chineses.
Até agora, o Chile registou 18 casos de contágio com a variante Delta, todos provenientes do exterior. Ainda não foi detetada a circulação comunitária do vírus.
Com base nesse estudo, o Governo chileno vai decidir se aplica ou não uma terceira dose da vacina cuja efetividade é a menor entre os demais imunizantes.
Esta semana, a Agência Europeia do Medicamento e o Centro Europeu para o Controlo de Doenças consideraram ser "demasiado cedo" para avançar com uma decisão sobre a necessidade de uma hipotética terceira dose das vacinas contra a covid-19, enquanto a Organização Mundial de Saúde a considerou desnecessária e criticou também a "ganância" em relação ao processo de vacinação.
Em 16 de abril, o Ministério da Saúde do Chile publicou um estudo realizado com 10,5 milhões de chilenos vacinados 14 dias depois da segunda dose da Coronavac. A efetividade da vacina foi de 67% (média entre a variação de 65% a 69%) para prevenir covid-19 sintomática.
O Chile já aplicou 18 milhões de doses da CoronaVac, responsável por 70% da vacinação geral. Até agora, 60% da população chilena de 19 milhões de pessoas completaram a vacinação. O governo chileno traçou a meta de vacinar 80% da população, equivalentes a 15,2 milhões de pessoas, para atingir a imunidade coletiva. Desses, 75,6% já foram completamente vacinados.
Além do Chile, na América Latina, o imunizante chinês é o segundo mais usado na campanha de vacinação do Brasil e o principal na campanha contra a covid-19 no Uruguai.
Na América Latina, o Chile e o Uruguai ocupam o pódio das nações que mais velozmente vacinam, graças ao imunizante chinês.