Sudaneses apontam para mais de 40 mortos no Tigray a flutuar num rio
Um funcionário sudanês revelou hoje que as autoridades locais na província sudanesa de Kassala encontraram mais de 40 corpos, aparentemente de pessoas a fugir da guerra na vizinha região de Tigray, na Etiópia, a flutuar num rio.
© EDUARDO SOTERAS/AFP via Getty Images
Mundo Etiópia
Vários corpos, recolhidos durante a última semana, apresentavam ferimentos de bala ou encontravam-se com as mãos atadas, acrescentou a mesma fonte, que falou à agência Associated Press (AP) sob condição de anonimato, indicando ser necessária uma investigação forense para determinar as causas de morte.
Dois funcionários etíopes do setor da saúde na comunidade de Hamdayet, na fronteira do Sudão, confirmaram ter visto corpos a flutuar no rio Setit, conhecido na Etiópia como Tekeze.
O rio atravessa algumas das áreas mais conturbadas do conflito que se prolonga há nove meses no estado etíope de Tigray, cuja etnia local acusou as forças federais etíopes e forças aliadas de Adis Abeba de várias atrocidades.
Tewodros Tefera, um cirurgião que fugiu da cidade de Humera, no Tigray, para o Sudão, disse à AP que dois dos corpos foram encontrados hoje, um de um homem com as mãos atadas, e o outro de uma mulher com uma ferida no peito. Pelo menos mais 10 corpos foram enterrados, acrescentou.
O médico etíope partilhou um vídeo em que alguns homens preparam uma mortalha para um corpo a flutuar de face para baixo no rio.
Segundo Tewodros Tefera, os corpos foram encontrados a jusante de Humera, onde as forças federais e combatentes aliados da região de Amhara, na Etiópia, foram acusados por refugiados etíopes de expulsarem a população tigray local durante a guerra.
Um segundo médico a trabalhar em Hamdayet disse à AP, igualmente sob condição de anonimato, que várias testemunhas lhe deram conta de que não tinham sido capazes de recolher todos os corpos avistados a flutuar no rio, devido ao rápido fluxo da água durante a estação chuvosa.
Uma conta na rede social Twitter criada hoje pelo Governo etíope classificou a notícia dos corpos a flutuar no Tekeze como uma campanha falsa levada a cabo por "propagandistas" entre as forças tigray.
O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, Prémio Nobel da Paz em 2019, lançou uma intervenção militar em 04 de novembro último para derrubar a Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF, na sigla em inglês), o partido eleito e no poder no estado do Tigray.
O exército federal etíope foi apoiado por forças da Eritreia e forças do estado etíope de Amhara, vizinho do Tigray. Abiy Ahmed declarou a vitória das forças federais em 28 de novembro, com a captura da capital regional, Mekele, frente à TPLF, partido que controlou a Etiópia durante quase 30 anos.
A operação foi sempre caracterizada por Adis Abeba como de imposição de segurança e ordem - uma operação de polícia e não de guerra, portanto -, mas os combates continuaram.
O conflito atingiu um ponto de viragem em finais de junho, quando as forças leais às autoridades estaduais recuperaram o controlo de grande parte do estado de Tigray, incluindo Mekele, o que levou o Governo federal a declarar um cessar-fogo unilateralmente.
O cessar-fogo foi justificado por Abiy Ahmed como uma possibilidade que Adis Abeba oferecia à população tigray para aproveitar a época agrícola, assim como para permitir que as operações de ajuda humanitária funcionassem sem entraves.
A guerra em Tigray tem sido marcada por atrocidades, bem como pelo crescente espetro da fome. De acordo com as Nações Unidas, mais de 400.000 pessoas "atravessaram o limiar da fome", e a ajuda humanitária continua a enfrentar grandes dificuldades para chegar às populações carenciadas.
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