Filas a perder de vista após Macau decidir testar a população em 72 horas
A chuva, o calor e as filas intermináveis não desmobilizaram a senhora Leong, que estreou hoje os testes massivos a toda a população de Macau, mas é um dos 98% dos residentes com mais de 80 anos por vacinar.
© Lusa
Mundo Covid-19
Acompanhada, tão vagarosa como serena, apesar das quase duas horas de espera numa fila fustigada primeiro pelo calor, depois pela chuva, a idosa faz um sinal com os dedos e diz em português: "Saúde! Obrigado".
Depois, em chinês, explica por que razão ainda não tomou a vacina: "Ainda não. Porque sou velha, tenho muitos problemas de saúde (...) como níveis elevados de açúcar no sangue, ácido úrico".
A cerca de um mês de fazer 81 anos, a macaense de apelido Leong admite que está a equacionar tomar a vacina, talvez motivada pelo aparecimento de novos casos e pelo risco de Macau registar pela primeira vez um surto comunitário, que obrigou o Governo a avançar com os testes massivos a quase 670 mil pessoas que vivem em Macau, onde pouco mais de um terço da população ainda não se vacinou, apesar da vacina ser gratuita, de não faltarem vacinas e até escolha.
Demorou quase duas horas na fila para fazer um teste que durou alguns segundos, mas sublinha que esse é o preço a pagar para que a saúde de todos fique protegida.
Expressa a sua concordância com as medidas do Governo desde que o novo coronavírus desembarcou em Macau em fevereiro do ano passado e, pragmática, explica o seu ponto de vista, fazendo a pergunta para dar logo depois a resposta: "Não concordas? Não és médico, não depende de ti, portanto, segue as restrições".
Alguns mais idosos tiveram a sabedoria de transportar as suas cadeiras desdobráveis, para não cansar as pernas e a paciência, mas Damien Gilg também está munido de armas contra a lentidão com que se move a fila, apertando entre as mãos um saco de papel de comida rápida comprada no Mcdonald's.
O francês já esperou uma hora, com a namorada, e prepara-se para a próxima. Mas encolhe os ombros e, entre o conformado e o convicto, salienta que "não havia opção" porque "era preciso ser testado".
Está vacinado com as duas doses da vacina e dá fundamenta o seu estado de espírito, argumentando que com as medidas que têm sido tomadas em Macau se sente "muito seguro".
Uma horas mais tarde, à tarde, também na cauda da fila que se formou desde manhãzinha, o indiano Vivek Nair, que tenta abrigar-se da chuva com o resto da família, divide-se entre a compreensão e a esperança. Compreende os atrasos nas filas, "porque fizeram o anúncio a noite passada" e tem a esperança que, entretanto, "os procedimentos sejam melhorados". E, em jeito e conclusão, explica o otimismo com o histórico do Governo na gestão da pandemia: "apoio, porque, em última análise, é para nos proteger, e a toda a comunidade".
Apressado, a algumas centenas de metros do local onde estão a ser conduzidos os testes no estádio olímpico da taipa, José Almeida já ouviu falar "das grandes filas" e traz à boleia a dúvida se vai conseguir no local efetuar a marcação prévia obrigatória com uma aplicação que só lhe apareciam as opções em chinês.
Menos pressa teve para ser vacinado, mas explica porquê, em sintonia com muitos dos residentes de Macau, ao longo do meio ano desde que teve início o processo de vacinação geral: "Não tem sido possível sair daqui, não tive ainda grande interesse em ser vacinado".
Ao mesmo tempo que defende que o Governo já devia ter avançado há mais tempo com os testes massivos à população, o português parece 'mandar às malvas' a hesitação e promete que vai tentar agendar as vacinas "o mais rápido possível".
No primeiro dia foram feitas 200 mil marcações 'online' para os testes que estão a decorrer 41 locais, 27 em Macau e 14 no Cotai (faixa de casinos entre as ilhas da Taipa e de Coloane).
Problemas informáticos causaram problemas na marcação dos testes e na criação do código QR de saúde que vigora no território, o que levou já as autoridades a pedirem desculpa à população.
Os quatro casos da variante Delta do novo coronavírus levaram na terça-feira o Governo de Macau a declarar o "estado de emergência imediata" no território "em risco de sofrer um surto" comunitário.
Macau detetou 63 casos desde o início da pandemia, não registando qualquer morte. Nenhum profissional de saúde foi infetado ou identificado qualquer surto comunitário.
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