"Falei hoje com os meus pais, disseram-me que estão bem, espero que não lhes aconteça nada de mal", disse a atleta, que recebeu asilo na Polónia.
"Espero decidir juntamente com o meu marido quanto tempo ficaremos na Polónia, em breve tomaremos uma decisão", acrescentou.
Tsimanouskaya disse também que esperava, com a sua atitude, poder ajudar outros cidadãos bielorrussos que se encontrem em situações semelhantes.
A atleta, que competia nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, negou-se a regressar à Bielorrússia com medo de represálias, depois de o Governo de Minsk a acusar de "instabilidade emocional e psicológica".
A velocista de 24 anos tinha-se queixado nas redes sociais do mau planeamento das autoridades desportivas bielorrussas e, já que no passado manifestou o seu apoio aos dissidentes democráticos do seu país, declarou temer pela sua segurança e pediu proteção à polícia japonesa.
Varsóvia concedeu um visto humanitário a Tsimanouskaya e ao seu marido, Arseny Zdanevich, que viajou na quarta-feira de Minsk para a Ucrânia.
O Governo polaco, que diz ter aceitado quase 300 pedidos de asilo político de cidadãos bielorrussos este ano, oferece um programa de proteção legal e ajuda económica aos imigrantes daquele país, cujo número, na Polónia, ascende a cerca de 100.000.
A atleta assegurou ter recebido muitas manifestações de apoio do mundo do desporto e expressou a esperança de continuar a treinar e competir e voltar a participar nuns Jogos Olímpicos.
"É claro que gostaria de continuar a treinar e a competir, se for possível. Durante os dois últimos anos, o meu marido foi o meu treinador em Minsk e quando vier para a Polónia, tentarei continuar a treinar com ele", disse.
"Espero que não tenham sido os meus últimos Jogos Olímpicos, farei todos os possíveis para continuar em forma e prosseguir a minha carreira", acrescentou.
Sobre um possível regresso à Bielorrússia, disse estar disposta a fazê-lo, mediante uma condição: "Quando estiver convencida de que lá estarei a salvo".
A decisão de não voltar à Bielorrússia a partir de Tóquio e de pedir proteção à polícia japonesa está, aparentemente, relacionada com um telefonema que recebeu da avó.
"A minha avó ligou-me, à última hora, e disse-me que em nenhum caso devia falar com alguém do Governo da Bielorrússia", explicou.
A chamada telefónica da avó ocorreu quando já estava a caminho do aeroporto para tomar o voo que haveria de levá-la de regresso a Minsk e esta contou-lhe que havia uma reação muito negativa contra ela na imprensa bielorrussa, incluindo relatos de que estava mentalmente doente, e aconselhou-a a não regressar.
No aeroporto, procurou a ajuda da polícia, mostrando a agentes japoneses, no seu telemóvel, um pedido de ajuda traduzido para a impedirem de embarcar no avião de regresso à Bielorrússia por temer represálias do Governo autoritário do Presidente Lukashenko.
Antes, tinha tido divergências com as autoridades desportivas do seu país, por se ter recusado a participar numa prova para a qual não havia treinado.
"Quando conversei com as autoridades e lhes disse que não ia participar na segunda prova, que a minha decisão era final, disseram-me que poderia falar com o Comité Nacional da Bielorrússia e ver se estavam de acordo", relatou.
"Eu concordei, mas logo me disseram algo completamente diferente e me ameaçaram, dizendo que se não cumprisse a sua vontade, tomariam medidas e podiam despedir-me dos Jogos", acrescentou.
Em seguida, um membro do Comité Olímpico Bielorrusso aproximou-se dela, segundo a atleta para espiar o que estava a escrever no seu telemóvel e ordenou-lhe que não comunicasse com a família.
Embora as críticas feitas por Tsimanouskaya fossem dirigidas à equipa de treinadores, o facto de ter desafiado as ordens destes poderia não cair bem junto das autoridades políticas: Lukashenko, que presidiu ao Comité Olímpico Nacional Bielorrusso durante quase um quarto de século, passando o cargo ao filho em fevereiro, tem um grande interesse em desportos, que encara como um elemento fundamental do prestígio nacional.
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