"A Venezuela vai de maneira autónoma ao diálogo no México e não nos submetemos a nenhuma chantagem de nenhum tipo, nem pressão imperial, nem dos Estados Unidos, nem de ninguém", disse o Presidente da Venezuela à televisão estatal do país.
Nicolás Maduro adiantou esperar que o diálogo sirva para "apresentar soluções soberanas, um cronograma eleitoral bom, estável e sólido, e que seja para o entendimento e a reconciliação".
O presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, o governador do estado venezuelano de Miranda e o deputado Nicolás Maduro Guerra, filho do chefe de Estado venezuelano, integram a delegação do Governo.
Por outro lado, a oposição vai estar representada pelo ex-presidente da Câmara Municipal de Baruta (sul de Caracas) Gerardo Blude, pelo representante do líder opositor e autoproclamado presidente interino do país, Juan Guaidó, nas relações para os EUA Carlos Vecchio pelo ex-secretário-geral do partido Primeiro Justiça Tomás Guanipa e pelo antigo deputado opositor Stalin González.
Para iniciar o diálogo, Maduro exigiu, recentemente, como condição que toda a oposição esteja representada, uma exigência apresentada por vários setores da oposição, não aliados de Juan Guaidó.
Da parte do Governo, segundo o chefe de Estado, a agenda contém sete pontos que incluem o "levantamento imediato de todas as sanções" dos EUA contra a Venezuela e o reconhecimento das "autoridades legítimas e constitucionais da Venezuela", bem como a renúncia da oposição "à violência e à conspiração".
Já a oposição venezuelana exigiu a criação de condições para eleições livres, justas e transparentes no país, assim como a libertação dos presos políticos.
Entretanto, na quinta-feira, os EUA reiteraram o apoio a Guaidó e sublinharam ser necessário "um progresso significativo" para levantar as sanções contra a Venezuela.
"Temos sido claros em que o regime de Maduro pode criar um caminho para aliviar as sanções, permitindo que os venezuelanos participem em eleições presidenciais, parlamentares e locais, livres e justas, que deviam ter sido realizadas há tempo", disse o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price, num vídeo divulgado na Internet.
De acordo com a imprensa mexicana, as negociações terão um prazo de seis meses.
Esta é a oitava ronda de diálogo entre o Governo e a oposição venezuelanos. A primeira decorreu em abril de 2014, na Venezuela, na sequência de grandes protestos contra o regime.
Em 2016, uma nova tentativa de diálogo realizou-se na Venezuela, em que um dos mediadores foi o Vaticano. Um ano depois, em 2017, representantes do Governo e da oposição deslocaram-se à República Dominicana para um encontro.
Em fevereiro de 2019, a pedido do papa Francisco, foram convocadas negociações no Uruguai, mas a oposição não participou e acusou o regime de ser cada vez mais repressivo e de aproveitar o diálogo para "fortalecer a ditadura".
Em maio de 2019, as negociações realizaram-se na Noruega, tendo por base as eleições presidenciais, uma nova direção para o Conselho Nacional Eleitoral venezuelano, a anulação da Assembleia Constituinte e o regresso dos apoiantes de Maduro à Assembleia Nacional, até então dominada pela oposição.
A oposição abandonou as negociações, na sequência da morte do capitão Rafael Acosta Arévalo, na prisão, alegadamente por tortura.
Em julho de 2019, os dois lados retomaram o diálogo, em Barbados, mas os representantes do Governo estiveram ausentes em protesto pela imposição de sanções pelos EUA.
Em setembro de 2019, o regime iniciou negociações, na Venezuela, com um grupo minoritário de opositores, alguns dos quais se tinham afastado de Juan Guaidó, para tratar da nomeação de um novo Conselho Nacional Eleitoral venezuelano e da troca de petróleo por alimentos e medicamentos.
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