Cabul tenta retomar a vida no segundo dia sob controlo dos talibãs

A cidade de Cabul estava hoje calma, com os cidadãos a retomarem as suas atividades diárias, após os rebeldes talibãs terem assumido o controlo da capital do Afeganistão no domingo, segundo relatos das agências noticiosas internacionais.

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Lusa
17/08/2021 11:02 ‧ 17/08/2021 por Lusa

Mundo

Afeganistão

 

Em várias ruas de Cabul no segundo dia de controlo dos rebeldes, os agentes de trânsito foram novamente vistos a controlar a circulação automóvel esta manhã, lojas reabriram e o pessoal dos hospitais e centros de saúde retomou as suas funções, noticiaram a EFE e a France-Presse (AFP).

Mas poucas mulheres atreveram-se a aventurar-se nas ruas e há sinais de que a vida não será a mesma no Emirado Islâmico do Afeganistão, a designação talibã do país.

Segundo a AFP, os homens trocaram as suas roupas ocidentais pelo 'shalwar kameez', o traje tradicional afegão, e a televisão estatal estava agora a transmitir principalmente programas islâmicos.

Veja as imagens na galeria acima de como se vive em Cabul, no segundo dia sob controlo dos talibãs.

Desde que entraram em Cabul no domingo, após uma fulgurante ofensiva que em apenas 10 dias lhes permitiu assumir o controlo de quase todo o país, os talibãs multiplicaram gestos de apaziguamento para com a população.

O movimento anunciou hoje uma "amnistia geral" para todos os funcionários públicos e apelou para todos voltarem aos seus "hábitos de vida em plena confiança".

Temendo que os funcionários do governo deposto fossem vistos como traidores aos olhos dos talibãs, os líderes políticos do movimento rebelde asseguraram que todos "foram perdoados".

"A situação em Cabul está sob controlo. Algumas pessoas que se envolveram em delitos foram detidas", disse numa mensagem o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, citado pela EFE.

Numa mensagem aos combatentes, o comandante talibã Sayyid Mawlawi Muhammad Yaqoub disse que "ninguém pode entrar na casa de ninguém" ou confiscar bens do governo.

"O recebimento dos artigos é uma questão para as autoridades competentes", disse Yaqoub, depois de meios de comunicação e jornalistas locais noticiarem buscas e apreensões de transeuntes e casas.

Vídeos divulgados pelos talibãs mostraram um encontro de elementos do movimento com pessoal médico de um hospital, incluindo mulheres, a quem pediram para "levar todos aos seus trabalhos e fazer o seu trabalho normalmente", de acordo com os insurgentes.

Os talibãs também afirmaram ter garantido a segurança das missões diplomáticas e humanitárias no país, com maior proteção do que a oferecida pelo governo do Presidente Ashraf Ghani, que fugiu do Afeganistão no domingo.

O canal noticioso afegão Tolo abriu o programa principal com uma apresentadora a entrevistar um membro dos talibãs, reivindicando o papel das mulheres e os importantes ganhos de direitos alcançados nas últimas duas décadas.

Segundo a EFE, trata-se de algo impensável durante o anterior regime talibã (1996 a 2001), quando as mulheres estavam confinadas às suas casas.

No programa, a apresentadora afegã Beheshta Arghand entrevista Mawlawi Abdulhaq Hemad, da equipa de comunicação talibã, sobre a situação em Cabul e as buscas domiciliárias na cidade.

Mas há quem admita que "as pessoas têm medo do desconhecido", como disse um lojista em Cabul à AFP.

"Eles não incomodam ninguém, mas é claro que as pessoas têm medo", acrescentou.

Os talibãs, que controlam a segurança do país e detêm a maior parte do território, não formaram oficialmente um governo nem nomearam líderes para o dirigir.

O ex-presidente afegão Hamid Karzai e o presidente do Alto Conselho para a Reconciliação Nacional, Abdullah Abdullah, disseram numa mensagem conjunta que estão em conversações com os líderes talibãs para alcançar a paz e a segurança em todo o país.

Karzai e Abdullah, juntamente com o líder do partido Hizb-e-Islami e o antigo senhor da guerra Gulbuddin Hekmatyar, fazem parte de um conselho provisório formado para ajudar na transição de poder depois de Ghani ter deixado secretamente o país.

Leia Também: "Apelo a quem de direito para que faça alguma coisa no Afeganistão"

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