Numa reunião extraordinária com eurodeputados das comissões de Negócios Estrangeiros e de Desenvolvimento e da delegação para as relações com o Afeganistão, o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, afirmou que a subida ao poder dos talibãs no Afeganistão constitui "uma nova oportunidade" para a China, a Rússia e a Turquia alargarem a sua influência na região, pelo que a União deve reforçar as suas relações com outros atores, designadamente Irão, Paquistão e Índia.
"A situação vai ter impactos de grande dimensão na segurança regional e internacional, trata-se do mais importante evento geopolítico desde a anexação da Crimeia pela Rússia", em 2014, considerou o dirigente espanhol, segundo o qual a União Europeia "está bem consciente" de que Turquia, China e Rússia procurarão reforçar a sua influência, em detrimento dos países ocidentais.
Segundo o Alto Representante, "a UE deve trabalhar de perto com os Estados Unidos e intensificar os seus esforços diplomáticos para forjar com os seus aliados um consenso de modo a desenvolver uma abordagem comum eficaz" relativamente ao novo regime talibã.
Admitindo que a necessidade de "falar com os talibãs", por si assumida após a reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros de terça-feira, suscita emoções, Josep Borrell reiterou que "a abertura de canais de comunicação não significa, de forma alguma, um reconhecimento político internacional dos talibãs".
"Não é de todo um reconhecimento, é uma forma de apoiar a ajuda humanitária ao Afeganistão e reforçar a assistência aos países vizinhos, de modo que possam gerir as repercussões negativas, as migrações internas e o risco acrescido de terrorismo ou de tráfico de drogas", argumentou.
A intervenção do chefe da diplomacia da UE perante as comissões do Parlamento Europeu teve lugar na véspera de uma nova reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros, mas ao nível da NATO, convocada pelo secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, para sexta-feira à tarde.
Os talibãs conquistaram Cabul no passado domingo, culminando uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
A tomada da capital pôs fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e dos seus aliados na NATO, incluindo Portugal.
Face à brutalidade e interpretação radical do Islão que marcou o anterior regime, os talibãs têm assegurado aos afegãos que a "vida, propriedade e honra" vão ser respeitadas e que as mulheres poderão estudar e trabalhar.
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