Afeganistão: Qatar surge como elemento-chave após saída dos EUA

O Qatar desempenhou um papel importante nos esforços norte-americanos para retirar pessoas do Afeganistão e agora está a ser solicitado para ajudar a moldar o que se segue no Afeganistão.

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© Sascha Schuermann/Getty Images

Lusa
30/08/2021 18:51 ‧ 30/08/2021 por Lusa

Mundo

Afeganistão

 

Devido aos laços com Washington e os talibãs, o Qatar vai estar hoje entre os pesos mundiais na reunião virtual organizada pelo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, para discutir uma abordagem coordenada nos próximos dias, quando os Estados Unidos completarem a retirada do Afeganistão após a tomada de poder dos talibãs.

A reunião vai incluir também o Canadá, França, Alemanha, Japão, Reino Unido, Turquia, União Europeia e a NATO.

Além disso, o Qatar está também em negociações sobre a prestação de assistência técnica civil aos talibãs no aeroporto internacional de Cabul, uma vez que a retirada dos EUA esteja concluída na terça-feira.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar confirmou à Associated Press (AP) que tem participado em negociações sobre as operações no aeroporto de Cabul com partidos afegãos e atores internacionais, principalmente os EUA e Turquia.

O Qatar afirmou que a sua principal prioridade é restaurar as operações regulares, preservando simultaneamente a segurança nas instalações do aeroporto.

Entretanto, as agências internacionais da ONU estão a pedir ajuda e apoio ao Qatar na prestação de ajuda ao Afeganistão.

O papel do Qatar foi algo inesperado. A nação, que partilha uma fronteira terrestre com a Arábia Saudita e um vasto campo de gás subaquático no Golfo Persa com o Irão, deveria ser supostamente um ponto de trânsito para alguns milhares de pessoas transportadas do Afeganistão por via aérea ao longo de um período de vários meses.

Após a surpreendentemente rápida tomada de poder pelos talibãs em Cabul, em 15 de agosto, os EUA procuraram o Qatar para ajudar a suportar a retirada de dezenas milhares de pessoas num caótico e apressado transporte aéreo.

No final, quase 40% de todos os retirados foram deslocados através do Qatar, cuja liderança ouviu elogios vindos de Washington.

Os meios de comunicação internacionais também se apoiaram no Qatar para retiradas do seu próprio pessoal. Os EUA disseram no sábado que 113.500 pessoas tinham sido retiradas do Afeganistão desde 14 de agosto, com o Qatar a referir que pouco mais de 43.000 transitaram pelo país.

O papel do país nessas retiradas reflete a sua posição como anfitrião da maior base militar dos EUA no Médio Oriente, mas também a sua decisão, há anos, de acolher a liderança políticas dos talibãs no exílio, oferecendo-lhe alguma influência junto do grupo de insurgentes, tendo acolhido também as conversações de paz entre os talibãs e os EUA.

A ministra-adjunta e porta-voz dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Lolwa al-Khater, reconheceu os ganhos políticos obtidos pelo país nas últimas semanas, mas rejeitou qualquer sugestão de que os esforços fossem puramente estratégicos.

Ao todo, Al-Khater disse que o Qatar assegurou a passagem para o aeroporto a cerca de 3.000 pessoas e transportou por via aérea até 1.500, após receber pedidos de organizações internacionais e verificar os seus nomes.

Al-Khater disse que o Qatar estava numa posição única devido à sua capacidade de falar com vários partidos no terreno e à sua vontade em escoltar pessoas através de Cabul.

"O que muitas pessoas não se apercebem é que esta viagem não é telefonema para os talibãs. Há postos de controlo do lado norte-americano, do lado britânico, do lado da NATO, do lado turco... e temos que fazer malabarismos com todas estas variantes e fatores", apontou.

O processo de evacuação liderado pelos EUA foi prejudicado por erros de cálculo e caos, e isso repercutiu-se na base de Al-Udeid, no Qatar.

Os hangares da base estavam tão lotados que os EUA suspenderam os voos de Cabul durante várias horas durante o pico de esforços de retirada, no dia 20 de agosto. Países próximos, como o Bahrein e os Emirados Árabes Unidos, aceitaram vários milhares de pessoas para aliviar a pressão sobre a base norte-americana.

A nação rica em energia é um pequeno país com pouco mais de 300.000 cidadãos, onde os trabalhadores estrangeiros expatriados com vistos temporários são muitos mais do que a população local.

A Casa Branca diz que o Presidente norte-americano, Joe Biden, expressou pessoalmente por telefone ao Emir Tamim bin Hamad Al Thani, por telefone, que o transporte aéreo liderado pelos EUA não teria sido possível sem o apoio do Qatar, facilitando a transferência de milhares de pessoas diariamente.

Este é o tipo de publicidade positiva que milhões de dólares gastos pelos Estados do Golfo Árabe em ações de lóbi e relações públicas dificilmente poderiam garantir.

Leia Também: Afeganistão: Primeiro envio aéreo da OMS com talibãs no poder

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