Florence Parly assegurou que a França permanecerá militarmente no Mali, onde está empenhada desde janeiro de 2013, apesar da reorganização em curso do seu dispositivo militar na região do Sahel, agora mais reforçada e dirigida contra os líderes e quadros 'jihadistas' e no apoio aos exércitos locais.
"Durante os últimos oito anos, a França escolheu estar continuamente ao lado do Mali, para ganhar, mas também para sofrer com isso", afirmou a responsável do executivo francês, após um encontro com o seu homólogo do Mali, o coronel Sadio Camara.
"É tempo de mudar a nossa forma de operar", disse, referindo-se em particular à evacuação prevista das bases em Kidal, Tessalit e Timbuktu, no norte do Mali, para se concentrar na "zona das três fronteiras", ou seja, nas zonas fronteiriças com o Níger e Burkina Faso.
Mas "será sempre uma questão de tranquilidade", graças, em particular às "capacidades aéreas em benefício das forças armadas malianas e das forças internacionais", sublinhou a ministra. "Não vamos sair do Mali", insistiu. "Sabemos que a situação de segurança permanece frágil", acrescentou.
Questionada se as conversações com o Governo do Mali se tinham centrado na possível utilização de mercenários da empresa russa Wagner pelas autoridades malianas, Florence Parly disse apenas: "Tivemos uma troca de informações franca, direta e completa". O coronel Camara, pela sua parte, não comentou nada.
Porém, no domingo, após a sua chegada de Niamey, onde se encontrou com o Presidente nigeriano, Mohamed Bazoum, e o seu ministro da Defesa, Alkassoum Indatou, para discutir a transformação da presença militar francesa no Sahel, que deverá ser reduzida de mais de 5.000 homens atualmente para "2.500 ou 3.000" até 2023, de acordo com o estado-maior, a ministra advertiu: "Não poderemos coabitar com mercenários".
A França e a Alemanha também já tinham avisado, na semana passada, que uma eventual utilização do grupo Wagner, para treinar as forças armadas do Mali e fornecer proteção aos seus líderes, poria em causa o compromisso militar com o Mali.
O Governo do Mali, dominado pelos militares que fizeram o golpe de Estado no país, retorquiu numa declaração no domingo que não permitiria a "qualquer Estado fazer escolhas no seu lugar e muito menos decidir quais os parceiros a que pode ou não recorrer".
"Há parceiros que decidiram deixar o Mali para se retirarem para outros países, há zonas que estão abandonadas", afirmou na altura o primeiro-ministro, Choguel Kokalla Maiga, na quinta-feira, referindo-se à reorganização militar francesa.
Além do caso Wagner, a comunidade internacional está preocupada com a relutância dos militares que derrubaram o Presidente Ibrahim Boubacar Keita em 18 de agosto de 2020 para organizar eleições e devolver o poder a civis, em fevereiro de 2022.
"Temos de garantir que existe aqui no Mali uma vontade de apoiar a CEDEAO a fim de fazer este processo de transição política, este regresso à democracia, à boa governação e à justiça, que são os únicos capazes de criar as fontes que permitirão ao Mali enfrentar os desafios do terrorismo islamista", disse Parly.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) alertou na quinta-feira que o prazo de fevereiro para a realização de eleições no país era "não negociável" e exigiu que as autoridades de transição no Mali estabelecessem um calendário de medidas essenciais antes do ato eleitoral até ao final de outubro.
"Continuamos determinados, presentes, acabamos de o provar na zona das três fronteiras", ao matar, numa operação em meados de agosto, anunciada na semana passada, o líder do grupo do Estado Islâmico no Grande Sara (EIGS), Adnan Abu Walid al-Sahrawi, recordou a ministra francesa.
Nesta região, afetada por ataques contra civis e soldados, a presença de grupos 'jihadistas' afiliados à Al-Qaida no Magrebe Islâmico (Aqmi) ou ao EIGS tem sido também palco de tensões de longa data entre comunidades.
Leia Também: França pede desculpa a combatentes muçulmanos na guerra da Argélia