"Este é um exemplo para África em que duas forças funcionam, trabalham e, à margem, também têm outra força dos nossos amigos da região. Mas há coordenação plena que permite um grande trabalho", referiu Nyusi, ao receber o Presidente ruandês, Paulo Kagame, em Pemba.
Nyusi discursava na Base Naval da capital provincial de Cabo Delgado onde os dois chefes de Estado saudaram as tropas dos dois países, no início de uma visita de dois dias de Kagame ao norte de Moçambique.
O Ruanda enviou em julho mil militares e polícias com equipamento e armas para a província norte de Cabo Delgado, sendo que no início de agosto era anunciada a reconquista de Mocímboa da Praia, vila portuária há um ano tomada por rebeldes.
Outras zonas foram sendo progressivamente libertadas, bases de insurgentes desmanteladas e civis resgatados das matas.
Nyusi agradeceu ao Ruanda a forma como as suas tropas tomaram o povo moçambicano como família, respeitando-o e apoiando humanitariamente.
Paul Kagame agradeceu à força conjunta por ter conseguido libertar "as zonas que estavam nas mãos de terroristas em Cabo Delgado" e disse que outra tarefa se aproxima, discursando em suaíli, uma das línguas oficiais do Ruanda.
"Começa outra tarefa. Já conseguimos libertar aqueles sítios" onde reinava insegurança.
"A tarefa que agora se vai iniciar é a de manter [seguras] as zonas já libertadas para permitir a reconstrução e o regresso das populações", afirmou o Presidente ruandês.
Os colegas moçambicanos "vão ficar à frente e mostrar como" se pode "guarnecer aquelas zonas", acrescentou.
"Temos de continuar a colaboração com os colegas moçambicanos", reiterou, sublinhando a situação de famílias que perderam tudo e precisam que a reconstrução avance, mas sem falar da extensão da missão do Ruanda ou abordar outros detalhes.
Nos primeiros discursos em Pemba o momento foi marcado sobretudo por saudações.
Sobre os "malfeitores" dispersos pela região, há que "trabalhar para não voltarem a maltratar a população", assinalou ainda Paul Kagame
O chefe de Estado ruandês deixou uma palavra para "outros países" que também estão no terreno - numa referência à missão militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) -, assinalando que o Ruanda foi um dos que recebeu a solicitação para "trabalhar em conjunto, para libertar as zonas sob controlo dos terroristas".
Paul Kagame vai participar, como convidado de honra, nas celebrações do 25 de setembro, Dia das Forças Armadas de Defesa de Moçambique.
Ainda em Pemba, os dois estadistas vão manter conversações oficiais para analisar a cooperação bilateral entre Moçambique e Ruanda, bem como "passar em revista assuntos de interesse comum, da região e do continente", segundo o programa hoje divulgado.
Cabo Delgado é uma província rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.
Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a SADC permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que esta semana voltou a ter energia da rede pública.
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