A manifestação juntou militantes do principal partido da oposição UNITA, do movimento PRA JA Servir Angola e do Bloco Democrático, agora congregados na Frente Patriótica Unida, uma plataforma 'ad hoc' que pretende derrotar o MPLA nas eleições prevista para 2022, e ativistas de movimentos sociais e membros da sociedade civil.
Cerca das 12:00, no cemitério de Santa Ana, local marcado para a concentração antes do início da marcha, que seguiu depois em direção ao Largo 1.º de Maio, o número de pessoas ainda era escasso, com pouco mais de uma centena de jovens a congregarem-se no local, onde o ambiente já era festivo devido à música hip hop que saia dos altifalantes do carro onde seguiram os organizadores do protesto.
Ali, enquanto se organizavam para o desfile, apoiantes de Adalberto da Costa Júnior (ACJ), o líder da UNITA eleito no XIII Congresso e destituído na semana passada por força de uma decisão do Tribunal Constitucional que anulou o ato, gritavam "Samakuva fora", aludindo ao antigo presidente, que recuperou agora o seu lugar depois do afastamento de ACJ da liderança do partido do Galo Negro.
Ginga Savimbi, uma das filhas do fundador do partido, Jonas Savimbi, era uma das participantes, afirmando estar ali "para apoiar os jovens e em defesa de ACJ", garantindo que este será a sua escolha mesmo que apareçam mais candidatos para disputar a presidência no próximo congresso, ainda por agendar.
Sobre a decisão do TC considerou que este "é mais um dos órgãos do Estado que trabalha para um partido político que não tem leis justas".
Já o ativista Hitler Samussuku, que também participou do protesto "em nome do Estado democrático e de direito" , lamentou que João Lourenço, o Presidente angolano, "esteja a capturar o TC para detonar os seus adversários políticos", afirmando estar também solidário com a Frente Patriótica Unida.
Sublinhou que mais do que apoiar a UNITA, "o que está em causa é o interesse nacional" e, por isso, as organizações da sociedade civil e simpatizantes dos partidos decidiram "abraçar esta luta", lamentando que "os juízes do TC sejam juízes do MPLA" que decidiram criar um acórdão político.
O militante da UNITA Carlos Jacinto ,que disse participar como cidadão neste protesto, considerou que "o MPLA só está a demonstrar que quer implantar uma monarquia em Angola" e quis alertar os angolanos "para o grande perigo do MPLA" no país, manifestando também apoio a ACJ.
Com cartazes improvisados, onde se liam dizeres como "MPLA, já não queremos mais" e "João viaja deixa o ACJ em paz", os jovens iam também gritando "Adalberto Presidente", num protesto marcado mais pelo conteúdo político, motivado pelo aproximar das eleições gerais e pelo afastamento de Costa Júnior, do que pelas reivindicações sociais.
Pelo local, circulavam também zungueiras e vendedores ambulantes na tentativa de fazer algum negócio, vendendo comida e água aos jovens.
A marcha, que saiu pontualmente às 13:00, em direção ao 1.º de Maio foi engrossando à medida que o desfile ia avançado em direção à cidade, cuidadosamente vigiado pela polícia, cautelosa a controlar os jovens, numa manifestação que decorreu de forma pacífica, apesar de alguns incidentes e tentativas de provocação de manifestantes mais exaltados que os organizadores da marcha, a partir do carro que acompanhou o desfile tentaram também acalmar.
Os manifestantes demoraram cerca de uma hora a fazer o percurso até ao Largo 1 de Maio, entoando palavras de ordem como "MPLA, fora" e "Adalberto, amigo, o povo está contigo", seguindo animadamente até à paragem final, também conhecida como Largo da Independência e onde se encontra uma monumental estátua do primeiro presidente angolano, Agostinho Neto.
Aí, os manifestantes foram-se distribuindo pela praça que foi circundada por polícias para impedir os jovens mais exaltados de prosseguir o protesto fora do local marcado.
No Largo, o jovem Bento de 24 anos , que afirmou não ter filiação partidária, declarou-se "muito maçado com o MPLA", o partido "dos bruxos e dos feiticeiros", queixando-se da falta de emprego para os jovens e do elevado custo dos bens alimentares
"Que país é esse? Nós somos angolanos! Esse país não é do MPLA, é do povo angolano, que está a sofrer. Os nossos irmãos estão a recolher comida nas lixeiras e nos contentores. João Lourenço fora!", indignou-se.
Tá Nice Neutro, outro dos jovens que foram à marcha, transformou o seu protesto numa música de intervenção.
"Próximo ano, MPLA na oposição e UNITA no poder/em 2022 vão gostar/Da vitória de um outro partido/porque ninguém mais acredita no MPLA/só tem homem bandido/desde 1975 que roubam toda a riqueza de um povo humilde/ muitos angolanos morreram por falar a verdade/xee, xee, xee, MPLA caiu", disparou em tom de 'rapper', fortemente aplaudido pelos jovens que o rodearem.
No largo, o protesto foi dando lugar a um comício, sucedendo-se as intervenções dos organizadores da marcha, num cenário tranquilo apesar do apelo de alguns jovens mais rebeldes para prosseguirem a marcha em direção ao Palácio presidencial.
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