"A covid-19 também é um desafio para a parceria Europa-África: expôs desigualdades, vulnerabilidades e lacunas", afirmou, durante o seu discurso de encerramento do Fórum Euro-África, que decorre, desde quinta-feira, em Carcavelos, Lisboa.
"Mas quando um amigo atravessa dificuldades, devemos ajudar", defendeu Durão Barroso, acrescentando que a Europa adotou, de imediato, algumas medidas para facilitar a situação africana: "não só na solidariedade de vacinas, mas no alívio da dívida e na recuperação económica".
Segundo lembrou, afetado pela covid-19, o continente africano está a enfrentar a sua primeira recessão económica dos últimos 25 anos, tendo o Produto Interno Bruto caído dois pontos percentuais em 2020.
Por isso, a União Europeia (UE) vai apresentar, na cimeira entre os dois continentes que irá realizar-se em fevereiro de 2022, um programa de cooperação até 2027, e está a analisar diversas ideias, "como ajudar na produção de vacinas, e novos negócios africanos ou apoiar a criação da área de comércio livre na África continental".
Por outro lado, sublinhou Durão Barroso, a ajuda passa também por lutar contra a principal causa da recessão africana: a covid-19.
"A Covax, plataforma criada para lutar contra a pandemia, já distribuiu 389 milhões de doses de vacinas a 144 países, incluindo mais de 123 milhões a 52 países em África", disse, adiantando que a plataforma está a trabalhar "em parceria próxima com a União Africana para conseguir mais doses para a região, apelando à indústria e aos países mais ricos para dar prioridade à distribuição de doses à Covax".
Para o presidente da GAVI, a desigualdade no mundo em termos de acesso a vacinas "é vergonhosa".
"Embora, 'grosso modo', tenhamos 70% do mundo desenvolvido já vacinado, em África -- e segundo os últimos dados, de há dois dias -- só 8% dos cidadãos elegíveis para vacinação estão vacinados. E com o esquema completo, só 5,2%", garantiu.
"Por isso, estamos muito longe de onde devíamos estar", concluiu.
As doações das doses de vacinas anti-covid-19 que os países mais ricos têm em excesso "têm de ser mais rápidas, em maiores quantidades e mais previsíveis, porque os esforços logísticos são enormes para estes países", alertou o responsável.
Na sua intervenção, o presidente do Fórum Euro-África lembrou que o continente africano é crucial para o sucesso da transição mundial para uma economia verde e digital e disse que este objetivo é uma prioridade da União Europeia.
"A relação [da Europa] com África é crucial para desafios globais, porque África vai ser um fator-chave para o sucesso ou insucesso das transições para uma economia verde e digital", afirmou José Manuel Durão Barroso, no final do fórum que decorre desde quinta-feira em Carcavelos, Lisboa.
"É impossível ter sucesso" nessa transição sem África, considerou Durão Barroso, sublinhando que o continente tem hoje uma população aproximada de 1,3 mil milhões de pessoas, mas é esperado que chegue aos 2,5 mil milhões de habitantes em 2050.
Segundo o presidente do fórum, os dois continentes -- Europa e África -- têm uma ligação muito especial, não só "por serem vizinhos, terem uma proximidade cultural e histórica e serem parceiros naturais", mas também pelo impacto mútuo que têm os acontecimentos.
Organizado pelo Conselho da Diáspora Portuguesa, o Fórum Euro-África reuniu personalidades dos setores público e privado, sociedade civil, empresários, ativistas e cientistas, para debater os desafios comuns dos dois continentes na era pós-covid.
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