"Não tive qualquer contacto com este Governo (...) que está em funções há mais de cinco meses", disse Rafael Grossi aos jornalistas, acrescentando que as únicas exceções tinham sido "conversas técnicas" com o novo chefe da Organização da Energia Atómica do Irão (OEAI), Mohammad Eslami.
"É espantoso e digo isto abertamente porque o digo a eles", acrescentou, explicando que havia "uma longa lista de coisas que precisamos de discutir".
Rafael Grossi esperava poder deslocar-se ao Irão antes da próxima reunião do conselho de governadores da agência, que terá início em 22 de novembro, mas lamentou que ainda não tivesse recebido qualquer convite.
O diretor-geral da AIEA visitou Teerão em setembro e na altura chegou a um acordo sobre a manutenção do equipamento de monitorização nas instalações iranianas. Deveria regressar em breve para manter conversações com o Governo do Presidente Raissi, que foi empossado em agosto.
Mas pouco depois da sua visita, a AIEA queixou-se de não lhe ter sido dado acesso "indispensável" a uma oficina de componentes de centrifugadoras no Irão.
Outra disputa antiga diz respeito à presença de materiais nucleares em locais não declarados, tendo a agência afirmado repetidamente não estar satisfeita com as explicações do Irão.
Neste contexto, o conselho de governadores da agência poderia emitir uma resolução criticando o Irão.
Os comentários de Grossi surgem enquanto as negociações, suspensas desde a eleição de junho do presidente ultra-conservador Ebrahim Raissi, deverão ser retomadas em Viena em 29 de novembro para salvar o acordo nuclear concluído em 2015.
As negociações entre Teerão e as outras partes (Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia) para relançar este pacto histórico, que deveria limitar drasticamente o programa nuclear iraniano em troca de um alívio das sanções económicas, estão num impasse.
Washington, que se retirou unilateralmente em 2018, está a participar indiretamente nas conversações.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, disse que está pronto a aderir de novo ao acordo e a levantar pelo menos algumas das sanções que o seu antecessor, Donald Trump (2017-2021), tinha reinstituído contra o Irão, mas na condição de Teerão também retomar os compromissos nucleares que abandonou.
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