Apoiantes do Governo manifestaram-se hoje no exterior das embaixadas dos Estados Unidos e do Reino Unido na capital, Adis Abeba, agitando bandeiras etíopes e entoando "parem a interferência estrangeira" e "parem as notícias falsas".
As reivindicações da Etiópia evidenciam tensões crescentes entre o Governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed e as potências mundiais, que em tempos o viram como um reformador.
A Etiópia foi vista por Washington como um parceiro de segurança crucial no Corno de África, mas as relações deterioraram-se em resultado da guerra, que dura há mais de um ano contra os separatistas do Tigray, que ameaçam marchar sobre Adis Abeba.
Em 05 de novembro, o Departamento de Estado norte-americano ordenou a retirada de pessoal não essencial da sua embaixada em Adis Abeba devido a "conflito armado, agitação civil e possível escassez de abastecimento". A decisão dos EUA foi seguida por várias outras missões diplomáticas, como o Reino Unido e a França.
Esta semana, a embaixada dos EUA emitiu um aviso sobre o risco de ataques terroristas na Etiópia, o que não agradou ao Governo etíope.
"Antes, eles [os americanos] espalhavam informação de que Adis Abeba está cercada [por rebeldes], agora acrescentam a esta falsa informação de que um ataque terrorista" vai lá ocorrer, explicou hoje o porta-voz do Governo etíope, Kebede Desisa.
"Estas ações são prejudiciais para as relações históricas entre os dois países", concluiu.
A administração de Joe Biden anunciou, em novembro, a sua intenção de retirar a Etiópia de um importante acordo comercial que concede acesso, de forma isenta, às suas exportações.
Mas, de forma a dar esperança de se alcançar um cessar-fogo, a administração norte-americana não aplicou as sanções.
A guerra em Tigray começou em novembro de 2020 quando o primeiro-ministro etíope enviou para lá o exército para retirar as autoridades da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF), que desafiaram a sua autoridade e que foram acusados de atacar bases militares.
Abiy declarou a vitória três semanas mais tarde após a captura da capital regional, Mekele.
Todavia, em junho, a TPLF retomou a maior parte de Tigray e continuou a sua ofensiva nas regiões vizinhas de Amhara e Afar, ameaçando agora Adis Abeba.
Os combates já mataram milhares e levaram centenas de milhares de pessoas a condições de carência, nomeadamente de fome, segundo as estimativas das Nações Unidas (ONU).
O enviado especial da União Africana (UA) para o Corno de África, o antigo presidente Olusegun Obasanjo, está a liderar os esforços diplomáticos para conseguir um cessar-fogo, mas poucos progressos foram feitos até agora.
A empresa estatal etíope Fana Broadcasting Corporate informou, quarta-feira, que Abiy está agora "a liderar a contra-ofensiva" e "a dirigir o campo de batalha desde ontem", dizendo que, em Adis Abeba, o vice-primeiro-ministro Demeke Mekonnen está agora a gerir "os assuntos do dia-a-dia".
A TPLF quer que o Governo e as forças aliadas se retirem de Tigray ocidental, enquanto o executivo quer que a força separatista se retire de Amhara e Afar.
Os líderes da TPLF também disseram que pretendem quebrar o que descrevem como um "cerco" humanitário de Tigray, onde poucos recursos de ajuda humanitária conseguiram ser entregues.
Todavia, há uma semana o Governo anunciou que autorizaria 369 camiões a transportar ajuda para Tigray.
Na quarta-feira, o gabinete de coordenação humanitária das Nações Unidas disse que cerca de 40 camiões que transportavam alimentos, e outras ajudas, tinham partido para Tigray vindos de Semera, a capital de Afar.
"Este é o primeiro comboio desde 18 de outubro", declarou o gabinete.
Mas "camiões que transportam combustível e material médico continuam à espera, em Semera, da autorização das autoridades", explicou a ONU.
A ONU também fez o seu primeiro voo humanitário de Adis Abeba para Mekele esta semana, uma vez que tais voos foram suspensos em outubro devido a uma campanha de ataques aéreos governamentais na região.
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