Multidões reuniram-se em Sydney, Melbourne e outras cidades no Dia da Austrália para denunciar as elevadas taxas de encarceramento, as más condições de saúde e a perseguição histórica dos primeiros habitantes do continente, que aí chegaram há 60 mil anos.
O feriado nacional de 26 de janeiro comemora a chegada de uma frota britânica ao porto de Sydney para estabelecer uma colónia penal.
Para muitos australianos, é um dia para celebrar com amigos e familiares nas praias ou em churrascos no quintal.
Para os ativistas, o "Dia da Invasão" assinala o início de um período de opressão dos povos indígenas, que resultou na desapropriação das suas terras, em massacres e no rapto de crianças às suas famílias.
Em Melbourne, milhares de manifestantes marcharam, alguns com cartazes que proclamavam a abolição da data, ou frases como: "Não há orgulho no genocídio".
"Trata-se de mudar a data, mas é mais para consciencializar as pessoas das injustiças que sofremos desde a chegada do homem branco, continuam até hoje", disse Tammy Miller, uma mulher indígena, à agência France Presse.
"Estamos a lutar pelas mesmas coisas pelas quais os meus avós lutaram, ver todas estas pessoas aqui deixa-me orgulhosa", acrescentou.
Nos dias que antecederam o Dia da Austrália, foi derramada tinta vermelha sobre uma estátua do explorador britânico James Cook em Sydney, derrubado um monumento em Melbourne dedicado a um pioneiro do século XIX e surgiu um memorial de guerra pintado, nesta cidade, com as palavras: "Devolvam a terra".
Numa cerimónia de naturalização em Camberra para 24 imigrantes - uma das cerca de 300 realizadas em todo o país - o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, saudou o "privilégio único" da Austrália de "partilhar este continente mais antigo com a cultura contínua mais antiga do mundo".
"É uma responsabilidade que todos nós devemos às gerações futuras salvaguardar a nossa coesão social, defender a justiça australiana e continuar o progresso da Austrália", afirmou ainda.
A escolha do dia 26 de janeiro como feriado nacional há muito que divide os australianos.
De acordo com uma sondagem da Resolve Strategic publicada no jornal Sydney Morning Herald na sexta-feira, o apoio a esta data aumentou nos últimos dois anos, de 47% para 61%.
As posições de ambos os lados tornaram-se mais radicais desde que um referendo sobre o reconhecimento formal dos povos indígenas na Constituição australiana, através da criação de um órgão consultivo denominado "Voz das Primeiras Nações", resultou numa votação maciça do "não" em outubro de 2023, segundo o jornal.
De acordo com os dados oficiais, cerca de 3,8% dos 26 milhões de habitantes da Austrália são indígenas.
Os indígenas continuam a ter uma esperança de vida oito anos menor do que os outros australianos, taxas de encarceramento mais elevadas, maior desemprego entre os jovens e uma educação mais pobre.
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