"Devido à falta de recursos, o Programa Alimentar Mundial (PAM) continua a fornecer rações semestrais equivalentes a 39% da energia diária" de cada pessoa, havendo uma possibilidade de serem retomadas ajudas a 100% "no mês de janeiro", refere a organização que apoia as ações de agências governamentais e humanitárias.
A atualização consultada hoje pela Lusa aponta para 935.000 deslocados e famílias anfitriãs em Cabo Delgado, Niassa e Nampula a necessitar de ajuda alimentar humanitária "pelo menos até março de 2022".
"A maioria dos deslocados internos ainda não consegue produzir a sua própria comida e depende da ajuda humanitária e do apoio das comunidades anfitriãs para obter alimentos", lê-se no documento.
A situação de fome em Cabo Delgado é a mais grave em Moçambique, sendo que no resto do país, além de bolsas de pobreza em diversos locais - agravadas em zonas urbanas devido à crise provocada pela covid-19 -, há boas perspetivas gerais de produção agrícola.
"No geral, as previsões nacionais e internacionais antecipam uma precipitação dentro da média sazonal em todo o país, apoiada por um fraco [fenómeno meteorológico] La Niña", lê-se no sumário, acrescentando que a 20 de novembro "o início das chuvas ocorreu em grande parte da província de Maputo e partes das províncias da Zambézia e Tete".
No entanto, as mesmas condições poderão fazer com que o número de ciclones a atingir o país na época chuvosa, que vai até abril, fique acima da média.
"É provável o desenvolvimento de oito a 12 eventos ciclónicos (tempestades tropicais e ciclones), dos quais quatro a seis podem se tornar ciclones tropicais" e alguns destes podem chegar à costa moçambicana, detalha.
O governo lançou oficialmente a campanha agrícola 2021/2022 a 12 de novembro, prevendo que "as principais culturas alimentares, comerciais e a produção de gado aumentarão entre 4% a 29% em comparação com o ano anterior, devido a uma previsão de chuvas sazonais favoráveis e investimentos governamentais como o programa Sustenta", conclui.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.
Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.
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