Com base em dados compilados pela ONU, a Save the Children avaliou as taxas de mortalidade por casos não tratados de desnutrição aguda grave em crianças menores de cinco anos em oito países da África Oriental e, utilizando uma estimativa conservadora, a organização de ajuda humanitária estima que cerca de 262.500 crianças desnutridas agudamente podem ter morrido desde o início do ano.
A África Oriental está atualmente a sofrer os impactos devastadores das alterações climáticas, com emergências concomitantes como secas e inundações em toda a região, levando a deslocações em massa e à fome severa.
Enquanto as comunidades do leste do Quénia, sul da Somália e partes da Etiópia estão a recuperar de sucessivas secas, partes do Sudão do Sul permanecem inundadas, após três anos de chuvas imprevisíveis e excessivas.
As admissões em centros de saúde de crianças que sofrem de subnutrição aguda aumentaram drasticamente em 2021, com um aumento de 16% no primeiro semestre deste ano, em relação a uma linha de base já elevada.
A desnutrição aguda grave é a forma mais extrema e perigosa de subnutrição. Os sintomas incluem costelas salientes e pele solta ou inchaço nos tornozelos, pés e barriga.
Atualmente, menos de metade das crianças subnutridas a um nível agudo (46%) em toda a África Oriental estão a ser devidamente tratadas.
Akuol, 16 anos, mãe de Abdo, com 17 meses, vive em Bor, no Sudão do Sul, e tem lutado para conseguir comida suficiente para si e para o seu filho, mas não é fácil, principalmente desde que as fortes chuvas dificultaram a entrega dos mantimentos humanitários, dos quais depende.
"Não há sítio onde descanse confortavelmente, não há comida (nem grãos, nem óleo) e a casa onde vivemos é como viver na rua. Não tenho ninguém a quem recorrer para pedir ajuda, por vezes imploro às pessoas à beira do rio e compro comida, se tiver sorte em conseguir alguma coisa. Não temos comida para comer, esperamos por apoio humanitário e, quando este termina, ficamos sem comida", contou, citada pela organização.
Kijala Shako, diretora para a Advocacia, Comunicações, Campanhas e Meios de Comunicação para a África Oriental e Austral da Save The Children, afirmou: "Estamos devastados por cerca de 260 mil crianças em toda a África Oriental poderem ter morrido de fome desde o início de 2021".
"Num ano em que a pandemia de covid-19 continuou a arruinar vidas e economias, e os conflitos matam e deslocam milhares de famílias, foram os impactos da crise climática que acabaram por ter o maior impacto nas crianças", disse.
E prosseguiu: "Na COP26 no mês passado, os países de elevado rendimento e os emissores históricos tiveram a oportunidade de apoiar o desenvolvimento de fundos para fazer face à rápida escalada das perdas e danos. Infelizmente, eles perderam o barco. Os números chocantes de hoje contam a história humana por detrás daquilo que estamos a pedir".
"As mortes por fome não são inevitáveis e temos as ferramentas, aptidões e experiência para chegar às crianças e as suas famílias antes que seja demasiado tarde. Os países que estão a suportar o peso da crise climática devem ser apoiados pelos danos que já estão a ser sentidos, na criação dos quais eles desempenharam um papel muito pequeno. É vital que vejamos a criação de um novo mecanismo de financiamento climático para perdas e danos até 2023", disse.
Ao mesmo tempo, adiantou, é preciso "uma redução drástica dos combustíveis fósseis para limitar o aumento das temperaturas e reduzir este tipo de desastres".
A Save the Children apela aos governos para que financiem integralmente planos de resposta humanitária e apoiem esquemas de proteção social e serviços de saúde e nutrição para crianças, incluindo o tratamento de desnutrição aguda.
Globalmente, a desnutrição está ligada a quase metade de todas as mortes de menores de cinco anos.
Em 2020, 149 milhões de crianças ficaram demasiado pequenas e 45 milhões demasiado magras. Estes números aumentarão para 3,6 milhões e 13,6 milhões, respetivamente, se não surgir uma rápida e decisiva resposta por parte da comunidade global, devido aos impactos da covid-19, alertou a organização.
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