Restrições do Irão dão "imagem muito distorcida" de programa nuclear
O chefe do organismo da ONU para o nuclear disse hoje que as restrições impostas pelo Irão aos seus inspetores ameaçam transmitir ao mundo uma "imagem muito distorcida" do programa nuclear de Teerão, que prossegue o enriquecimento de urânio.
© Getty Images
Mundo ONU
Em entrevista à agência noticiosa Associated Press (AP), o diplomata argentino Rafael Mariano Grossi, que em dezembro de 2019 assumiu a chefia da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) indicou que os seus inspetores devem ser autorizados a trabalhar livremente, se a República islâmica quiser "ser um país respeitado na comunidade das nações".
"Queremos trabalhar em conjunto", disse Grossi a partir de um luxuoso hotel em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos (EAU), após ter visitado a primeira central nuclear do país. "Devem trabalhar em conjunto. Esperemos que compreendam que em nós têm um parceiro".
Grossi insistiu que a AIEA, com sede em Viena, permanece "um auditor" para o mundo, e num momento em que foram retomadas em Viena as negociações destinadas a reativar o acordo nuclear de 2015. Horas antes, o chefe do programa nuclear civil iraniano tinha insistido na recusa do país em permitir o acesso da agência a um sensível complexo de centrifugação.
O complexo de Karaj, nos arredores de Teerão e vocacionado para o fabrico de componentes de centrifugadoras, foi alvo de um incidente em junho, que o Irão considerou uma sabotagem, e pelo qual responsabilizou Israel.
"Caso a comunidade internacional, através de nós, através da AIEA, não consiga observar claramente quantas centrifugadoras existem, ou qual a sua capacidade (...) o que teremos será uma imagem muito distorcida", assinalou Grossi. "Fornecerá a ilusão da imagem real. Mas não a imagem real. É por isso que esta situação é muito importante".
Grossi considerou um "simples absurdo" a alegação iraniana de que os sabotadores utilizaram as câmaras de filmagem da AIEA no ataque ao complexo de Karaj. Teerão não apresentou uma prova evidente para justificar a queixa, apesar de constituir mais um sinal de fricção entre os inspetores e o Irão, acrescentou a AP.
O acordo de 2015, designado Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, assinado entre Teerão e os EUA, Reino Unido, França, China, Rússia e ainda Alemanha) garantia ao Irão uma suavização das sanções ocidentais em troca de um controlo estrito do seu programa nuclear, sob supervisão de inspetores da agência das Nações Unidas.
Em represália pela retirada unilateral dos Estados Unidos do JCPOA, em 2018, e pela nova imposição de severas sanções pela administração do então Presidente Donald Trump, o Irão abandonou a maioria dos seus compromissos.
Teerão iniciou o enriquecimento de urânio até um grau de pureza de 60%, aproximando-se do nível de 90% que lhe pode garantir o fabrico da arma atómica. De acordo com a AIEA, o armazenamento de urânio tem aumentado diariamente e muito para além do limite acordado em 2015.
Após a sua eleição, o Presidente dos EUA, Joe Biden, que sucedeu a Donald Trump, afirmou pretender o regresso de Washington ao acordo, enquanto prosseguem as novas negociações para tentar retomar esta iniciativa.
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