"Lendário veterano da luta de libertação, não há nem nunca haveria medalha que honrasse Sérgio Vieira. A verdadeira homenagem deve ser feita agora, no dia-a-dia", declarou Nyusi.
O chefe de Estado moçambicano falava na mensagem que leu durante as exéquias fúnebres de Vieira, que morreu na última quinta-feira, vítima de doença, numa clínica na África do Sul.
Desde os tempos de liceu em Portugal, Sérgio Vieira opôs-se ao colonialismo, racismo e desigualdade, passando a ser considerado "subversivo e anti Portugal" pelo regime colonial, recordou Filipe Nyusi.
O Presidente assinalou que a postura frontal de Vieira contra o colonialismo português motivou a sua perseguição em Lisboa e fuga para Paris.
Na capital francesa, o assédio das autoridades contra o nacionalista moçambicano também não cessou, levando-o a fugir para o norte de África, nomeadamente Marrocos e Argélia, onde se formou em Ciência Política, avançou o Presidente moçambicano.
O Presidente moçambicano destacou o "zelo e brio profissional" com que Sérgio Vieira exerceu as várias tarefas que assumiu depois da independência de Moçambique em 1975, mantendo-se sempre ao serviço dos valores mais nobres da moçambicanidade.
"Está claro que a nação moçambicana se vê privada de uma das célebres figuras da independência, de uma biblioteca viva da nossa história", realçou Filipe Nyusi.
Nascido na província de Tete, centro de Moçambique, Sérgio Vieira, morreu aos 80 anos, calando-se um dos nacionalistas moçambicanos mais emblemáticos.
Sérgio Vieira juntou-se à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) ainda antes da independência, tendo exercido várias funções de relevo.
Com a independência, Vieira assumiu diversas pastas, incluindo as de ministro da Segurança, Administração Interna e Agricultura, bem como de governador do Banco de Moçambique e governador provincial.
Era considerado um dos ideólogos do partido no poder em Moçambique durante o período de partido único, que durou até à aprovação da primeira constituição multipartidária do país, em 1990.
Sérgio Vieira era tido como uma das figuras próximas do primeiro Presidente moçambicano, Samora Machel, que morreu em 1986 vítima de despenhamento do avião em que seguia.
Disse por diversas vezes que só escapou à morte nesse desastre aéreo, porque Machel o dispensou da viagem presidencial para poder estar ao lado da mulher, que na altura se encontrava doente, acabando por falecer.
Colocando-se sempre do lado da Frelimo mais ortodoxa do tempo do regime de partido único, insistia em tratar a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), hoje principal partido da oposição, como organização fundada por "bandidos armados" e a soldo do antigo regime de supremacia branca do "apartheid" da África do Sul.
Tal como vários históricos e comunistas assumidos da Frelimo, Sérgio Vieira considerava a Renamo uma criação de "inimigos" da Frelimo, que pretendiam desestabilizar o país para travar a "revolução".
Durante o período em que Armando Guebuza foi Presidente da República e da Frelimo (entre 2005 e 2015), Sérgio Vieira dirigiu fortes críticas ao que considerava traição dos valores fundacionais do partido no poder, através de artigos que publicou em jornais.
Nessa época, insurgiu-se contra o que via como novo racismo de alguns setores no partido no poder, em referência a cartas anónimas que tratavam Sérgio Vieira e outros quadros do partido como parte da "ala goesa" e "não moçambicanos de gema", uma menção à origem em Goa de alguns históricos da organização.
Vieira era um parente próximo do atual ministro de Portugal, António Costa.
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