Segundo um funcionário da organização líbia Belaady para os Direitos Humanos, Tarik Lamloum, citado pela agência noticiosa Associated Presse (AP), as tropas vieram durante a noite, destruíram o local do protesto e prenderam centenas de ativistas e migrantes, que foram levados para um centro de detenção na cidade vizinha de Ain Zara.
Outros conseguiram fugir da incursão das forças de segurança, acrescentou, adiantando que pelo menos um líder comunitário de uma associação de migrantes foi baleado.
Os migrantes, incluindo mulheres e crianças, estavam acampados desde outubro de 2021 nos jardins do edifício das Nações Unidas em Tripoli, com o objetivo de pedir proteção após uma violenta repressão de que foram alvo dias antes e para exigir um melhor tratamento nas mãos das autoridades líbias.
Também citada pela AP, Aiysha, uma migrante sudanesa e mãe de dois filhos que participava no protesto com a família desde outubro, indicou que a polícia espancou e prendeu vários manifestantes e que ela própria estava presa.
"Fomos apanhados desprevenidos. Eles queimaram as tendas e incendiaram tudo", disse Aiysha por telefone desde o centro de detenção em Ain Zara, não adiantando o apelido por questões de segurança.
Um porta-voz do Governo líbio não respondeu a telefonemas e mensagens da AP a pedir comentários.
Segundo a ONU, na repressão de outubro, as autoridades líbias prenderam mais de 5.000 migrantes, incluindo centenas de crianças e de mulheres, dezenas delas grávidas.
Na altura, as autoridades indicaram tratar-se de uma "operação de segurança" contra a migração ilegal e o tráfico de drogas.
Os migrantes detidos foram levados para centros de detenção sobrelotados, o que gerou protestos da ONU e de associações de direitos humanos.
A Líbia, rica em petróleo, está mergulhada num caos securitário e político desde que a sublevação, apoiada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), derrubou o regime do líder líbio, Muammar Kadhafi, em 2011.
O país do norte da África emergiu nos últimos anos como uma "plataforma de trânsito" para milhares de migrantes que fogem da guerra e da pobreza em África e no Meio Oriente, com a esperança de alcançar uma vida melhor na Europa.
Os traficantes têm explorado o caos vivido no país, colocando em perigo a vida de muitos migrantes e refugiados que tentam a travessia do Mar Mediterrâneo a bordo de embarcações precárias e mal equipadas.
Milhares já morreram afogados ao tentar a travessia, enquanto outros são intercetados e devolvidos à Líbia, que não é considerado um porto seguro.
Os migrantes intercetados são frequentemente levados para centros de detenção administrados pelo Governo, onde, segundo a ONU, são alvo de tortura, agressões sexuais e de outros abusos.
Para a ONU e responsáveis de organizações de defesa dos direitos humanos, estes abusos podem ser considerados como "crimes contra a humanidade".
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