Naquela escola do Bairro de Maxaquene é o próprio diretor, Miguel Cumbane, que explica ao funcionário como manejar o termómetro com que deve medir a temperatura dos encarregados de educação que vão ter com o líder do estabelecimento, no modesto bloco administrativo, para apresentarem dúvidas sobre como vai decorrer o ano letivo em 2022.
"Estamos em condições de iniciar o ano letivo, preparámos as condições básicas e o protocolo contra a covid-19. Recebemos do Ministério da Educação um fundo para tal", disse Cumbane à Lusa.
A escola tem água canalizada, sabão, gel e baldes colocados em lugares estratégicos para que os alunos e professores se higienizem, acrescentou.
Como em todo o país, a Escola Primária Completa Unidade 25 vai voltar a funcionar com "turminhas", que têm entre 25 e 30 alunos, metade de uma turma normal do período antes da pandemia, para permitir um distanciamento de pelo menos 1,5 metros entre carteiras.
Pelo segundo ano consecutivo, os alunos vão estudar apenas durante três dias por semana em vez de cinco.
Os encarregados de educação confiam num ano letivo em segurança.
"Conforme vejo, dá para os meus gémeos continuarem aqui nesta escola. A questão de medição da temperatura, lavagem de mãos, torneiras, casas de banho e máscaras está resolvida", disse à Lusa Cecília Pateguel, mãe de dois filhos de 12 anos que vão frequentar o quinto ano de escolaridade.
Apesar de só ter oito anos, Agostinho Cossa disse que o filho já não aceita ir à escola sem a máscara bem posta, "ciente da existência de um problema" que se chama covid-19.
Para Arsénio Mangue, diretor da Escola Primária Completa Hulene A, subúrbios da capital, o ano letivo de 2022 arranca com uma "grande lição que a pandemia está a deixar": a redução do número de alunos por turma beneficia-os.
"A pandemia é uma grande infelicidade, mas há uma grande lição que nos deixou: as atuais turmas de 25 a 30 alunos permitem uma melhor interação e melhor conhecimento entre os alunos e o professor do que nas anteriores turmas de 50 a 60 alunos", observou.
Outra grande aprendizagem, prosseguiu Mangue, é que o ensino híbrido, que consiste nas aulas presenciais e à distância, é difícil em Moçambique, devido à falta de recursos tecnológicos e incapacidade dos pais e encarregados de educação.
"As crianças voltam à escola sem terem feito as tarefas escolares, porque os pais não estão preparados para ajudar os filhos", queixou-se.
O diretor da escola em Hulene assegurou que o seu estabelecimento está preparado para lecionar em segurança, porque também recebeu um fundo estatal para a compra de materiais de desinfeção e higienização.
"Temos o necessário", acrescentou.
Para Armando Picardo, os alunos só têm de seguir o exemplo do seu filho, que, com 10 anos e a preparar-se para entrar na quarta classe, "não aceita ir à escola sem máscara".
Matilde Chilundo, diretora da Escola Primária Completa 3 de Fevereiro, frequentada por crianças de parte da elite de Maputo, no centro da capital, disse aos encarregados de educação que os professores e a direção da escola vão entregar-se "de corpo e alma ao novo normal", tal como fizeram em 2021.
"O Presidente da República orientou-nos para que as escolas funcionem, respeitando as medidas de prevenção da covid-19", disse Chilundo, na reunião com os encarregados de educação, que começou depois de o chefe de Estado, Filipe Nyusi, ter feito hoje o discurso da cerimónia solene de abertura do ano letivo de 2022.
A diretora da Escola Primária Completa 3 de Fevereiro lamentou que haja alunos que não sabem ler nem escrever, porque as aulas têm decorrido num ambiente anormal, devido às interrupções verificadas no ano passado por causa da pandemia.
Na Escola Secundária da Polana, localizada na chamada zona nobre de Maputo, o dia ainda é para os pais e encarregados de educação consultarem as listas das turmas e sala onde os educandos vão estudar, mas a preocupação com a covid-19 está por todo o lado.
Torneiras e baldes colocados em cada sala de aula e um guarda a perseguir pessoas que entram em passo acelerado na escola para a medição de temperatura.
O pontapé de saída do ano letivo 2022 foi dado pelo Presidente da República ao inaugurar uma escola com o seu nome, Escola Secundária Engenheiro Filipe Jacinto Nyusi, no distrito de Boane, província de Maputo.
O estabelecimento resultou de um apoio da fábrica de transformação de alumínios Mozal, num exemplo de ação de responsabilidade social enaltecido pelo chefe de Estado.
O analfabetismo afeta cerca de 40% da população moçambicana, sobretudo mulheres, notou Nyusi, sublinhando que "a realidade é mais complicada" devido à taxa de crescimento anual da população, estimada em 2,8%.
"A nossa estratégia de expansão e financiamento dos serviços educativos preconiza a participação de todos, incluindo o setor privado, com ações de responsabilidade social. A nossa expetativa é que mais empresas se juntem a este compromisso de educar a nação", concluiu.
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