ANC é "séria fonte de instabilidade" na África do Sul

Especialistas nomeados pelo Presidente sul-africano para averiguar as causas da violência que causou mais de 350 mortos em julho de 2021 consideraram que as fações do Congresso Nacional Africano (ANC, no poder) são uma "séria fonte de instabilidade".

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Lusa
07/02/2022 13:52 ‧ 07/02/2022 por Lusa

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"Talvez a contribuição mais significativa, que ouvimos várias vezes, foi que o que parece serem batalhas entre fações no Congresso Nacional Africano, que se tornaram uma séria fonte de instabilidade no país", refere-se no relatório divulgado hoje pela Presidência da República sul-africana.

No documento, a que a Lusa teve acesso, o painel de peritos nomeado por Cyril Ramaphosa sublinha que a resposta da polícia e dos serviços de informações sul-africanos foi "inadequada" e "insuficiente" para conter a violência que eclodiu em julho de 2021 após a prisão do ex-presidente Jacob Zuma, por desrespeito à Justiça.

"A polícia ficou sem munições, como balas de borracha e gás lacrimogéneo. Por outro lado, relatos de pessoas que testemunharam a violência sugerem que as pessoas que iniciaram a violência sabiam que teriam pouca resistência, se houvesse alguma", refere-se no documento.

"A polícia não conseguiu impedir os tumultos e saques em julho de 2021. As razões para essas falhas são complexas e, por vezes, não são da sua autoria. Em algumas circunstâncias, não receberam informações para poderem planear as operações", adiantou.

Os autores criticaram também o que qualificaram de "disfuncionalidade" no executivo de Ramaphosa, salientando que, em alguns casos, "impediu" a tomada rápida de decisões.

Segundo os autores, a violência de julho "pode ser analisada no contexto de múltiplas crises e desafios que a África do Sul enfrenta", destacando o "enfraquecimento das instituições do Estado", "elevado desemprego, acima dos 70% entre os jovens", "níveis elevados de pobreza" e "desigualdade profunda" que subsiste no país após cerca de 30 anos de governação democrática.

Destacaram ainda o "mau ordenamento do território, levando a condições de vida superlotadas e inadequadas para muitos, com assentamentos informais surgindo em espaços urbanos lotados; corrupção desenfreada em vários níveis da governação e o fenómeno da captura estatal [pela grande corrupção pública]".

"A combinação dos desafios acima mencionados é uma receita para instabilidade constante", frisaram os autores do relatório, salientando que a violência e pilhagens que sacudiram a África do Sul entre 8 e 17 de julho do ano passado causaram pelo menos 354 mortos nas províncias de Gauteng e KwaZulu-Natal e prejuízos materiais à economia do país de cerca de 50 mil milhões de rands (2,8 mil milhões de euros).

Em 05 de agosto, o chefe de Estado sul-africano referiu que "o país viveu uma campanha de violência pública orquestrada, destruição e sabotagem".

Poucos dias depois dos tumultos, o Presidente Cyril Ramaphosa destacou cerca de 25.000 soldados para restaurar a ordem pública, abolindo posteriormente o Ministério da Segurança de Estado, que ficou sob a alçada da Presidência da República juntamente com os serviços secretos e de informações.

Leia Também: Incêndio na catedral sul-africana onde estão as cinzas de Desmond Tutu

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