Este 15 de janeiro abre a porta ao fim da guerra de 15 meses na Faixa de Gaza, depois de ter sido anunciado um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, que prevê a libertação de reféns. Na sequência da notícia, há já inúmeras reações, nomeadamente de Portugal, falando-se em "alívio", "descanso" e desejos de uma solução "duradoura".
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, foi o primeiro a reagir, na Truth Social, com a confirmação do acordo. Pouco depois, na mesma rede, o próximo presidente dos Estados Unidos reivindicou a sua responsabilidade nesta resolução.
"Este acordo épico só foi possível graças à nossa vitória histórica [nas eleições presidenciais norte-americanas] em novembro, porque mostrou ao mundo inteiro que a minha administração iria procurar a paz e negociar acordos para garantir a segurança de todos os americanos, e dos nossos aliados", declarou.
Já o presidente cessante dos Estados Unidos, Joe Biden, disse ver o acordo como "uma grande oportunidade" para Donald Trump dar um "futuro melhor ao Médio Oriente". "Espero que a aproveitem. Tivemos muitos dias difíceis desde que o Hamas começou esta guerra. Não desistimos e agora, depois de mais de 400 dias de combates, chegou o dia do sucesso", afirmou Joe Biden.
Durante a declaração aos jornalistas, Biden sublinhou que o acordo foi negociado pela administração que lidera e quando foi questionado sobre "quem merece os créditos", Biden ou Trump, o ainda chefe de Estado dos Estados Unidos respondeu apenas: "Isso é uma piada?". No entanto, o presidente cessante revelou que a sua administração e a equipa do presidente eleito "dialogaram como uma equipa" durante as negociações.
O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, também saudou o acordo, instando as partes envolvidas a garantirem que seja totalmente implementado. Numa breve declaração à imprensa, na sede da ONU em Nova Iorque, Guterres indicou que a prioridade a partir de agora deve ser "aliviar o tremendo sofrimento causado por este conflito".
A União Europeia (UE) seguiu os mesmos passos. "Saúdo calorosamente o acordo de cessar-fogo e de libertação de reféns em Gaza. Os reféns serão reunidos com os seus entes queridos, e a ajuda humanitária conseguirá chegar aos civis em Gaza", escreveu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na rede social X (antigo Twitter).
"Isto traz esperança a toda a região, onde as pessoas suportaram um enorme sofrimento durante demasiado tempo", acrescentou Von der Leyen, desejando que "ambas as partes em conflito cumpram este acordo na totalidade, como um trampolim para uma estabilidade duradoura na região e uma resolução diplomática do conflito".
I warmly welcome the ceasefire and hostage release agreement in Gaza.
— Ursula von der Leyen (@vonderleyen) January 15, 2025
Hostages will be reunited with their loved ones and humanitarian aid can reach civilians in Gaza.
This brings hope to an entire region, where people have endured immense suffering for far too long.
Both…
Já o presidente do Conselho Europeu, António Costa, saudou o acordo, esperando que permita o "acesso imediato" da ajuda humanitária ao enclave. "Espero que este acordo ponha fim ao sofrimento dos civis e que aqueles que estão em cativeiro possam reunir-se com os seus entes queridos", sublinhou o ex-primeiro-ministro português na rede X.
"A UE continua empenhada numa paz abrangente, justa e duradoura, baseada na solução dos dois Estados", destacou ainda.
As palavras de Portugal
Por sua vez, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa garantiu o esforço de Portugal "para fazer deste acordo uma realidade e estabilizar a situação na Faixa de Gaza e na região".
"O Presidente da República saúda o acordo de cessar-fogo em Gaza, anunciado esta tarde pelos mediadores", lê-se numa nota publicada no site da Presidência da República.
Na nota, a Presidência sublinha ainda que "esta decisão abre a porta ao regresso dos reféns na posse do Hamas desde o fatídico ataque de 7 de outubro de 2023, assim como ao fim do sofrimento imenso da população palestiniana na Faixa de Gaza".
Também na rede social X, o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, saudou "o há muito aguardado anúncio de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, incluindo a libertação dos reféns, a retirada das forças israelitas e o acesso de ajuda humanitária a Gaza". "Um passo necessário rumo a uma paz duradoura", apontou.
Saúdo o há muito aguardado anúncio de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, incluindo a libertação dos reféns, a retirada das forças israelitas e o acesso de ajuda humanitária a Gaza. Um passo necessário rumo a uma paz duradoura.
— Luís Montenegro (@LMontenegropm) January 15, 2025
Antes, também o Ministério dos Negócios Estrangeiros tinha manifestado o seu apoio ao acordo, sublinhando que o mesmo permitirá "avançar rumo a uma solução política duradoura".
"O Governo português saúda e apoia o acordo entre Israel e o Hamas para a libertação de reféns e pausa nas hostilidades na Faixa de Gaza. O cessar-fogo permitirá aliviar o sofrimento das populações envolvidas e avançar rumo a uma solução política duradoura", pode ler-se numa publicação no X.
O Governo português saúda e apoia o acordo entre Israel e o Hamas para a libertação de reféns e pausa nas hostilidades na Faixa de Gaza. O cessar-fogo permitirá aliviar o sofrimento das populações envolvidas e avançar rumo a uma solução política duradoura.
— Negócios Estrangeiros PT (@nestrangeiro_pt) January 15, 2025
Quem também deixou uma mensagem no X foi o secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos: "É uma boa notícia e um sinal de esperança", apontou, ressalvando que a "estabilidade regional só será alcançada com uma solução de dois Estados".
Note-se que outros países também se pronunciaram. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, falou numa "notícia há muito esperada pela população israelita e palestiniana", enquanto o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, considerou o cessar-fogo crucial para "uma paz justa" no Médio Oriente e disse ver "com esperança" o acordo nesse sentido entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, também reagiu e pediu paz e respeito pela vida.
O anúncio e as palavras do Hamas e de Israel
O primeiro-ministro do Qatar confirmou hoje um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, após 15 meses de conflito, avançando que a trégua deverá entrar em vigor no domingo.
O anúncio de Mohammed bin Abdulrahman Al Thani ocorreu em Doha, capital do Qatar, país mediador e que tem acolhido as negociações minuciosas indiretas que decorrem há várias semanas.
O líder do Qatar referiu que o acordo alcançado abre o caminho para dezenas de reféns israelitas regressarem a casa, confirmando a libertação de 33 reféns israelitas durante a primeira fase da trégua na Faixa de Gaza, cenário de uma guerra entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas desde 7 de outubro de 2023.
O governante especificou que a primeira fase da trégua tem uma duração prevista de 42 dias.
"O Hamas vai libertar 33 prisioneiros israelitas, incluindo mulheres civis (...), crianças, idosos, civis doentes e feridos, em troca de vários prisioneiros detidos nas prisões israelitas. Os pormenores das fases dois e três da trégua serão finalizados quando a primeira fase for concretizada", acrescentou numa conferência de imprensa.
Nas mesmas declarações, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani anunciou que o Qatar, o Egito e os Estados Unidos - países que passaram o último ano a tentar mediar o fim da guerra na Faixa de Gaza e a libertação dos reféns - vão controlar a aplicação do acordo de tréguas através de um mecanismo de vigilância estabelecido no Cairo.
Momentos depois das declarações do líder do Qatar, o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, descreveu o acordo como o resultado de "mais de um ano de esforços implacáveis de mediação egípcios, qataris e americanos".
O Hamas defendeu, também em comunicado, que o acordo de cessar-fogo em Gaza foi o resultado da "tenacidade" do povo palestiniano e da "valente resistência" do movimento.
"O acordo de cessar-fogo é o produto da lendária tenacidade do nosso povo palestiniano e da nossa valente resistência na Faixa de Gaza durante mais de 15 meses", afirmou o movimento.
O acordo, adiantou, abriu "o caminho para a concretização de as aspirações do povo pela libertação".
Por sua vez, o presidente israelita, Isaac Herzog, saudou cautelosamente o recém-anunciado acordo, afirmando tratar-se de "um dos maiores desafios" que Israel já enfrentou.
"Não tenhamos ilusões. Este acordo, quando for assinado, aprovado e aplicado, trará consigo momentos profundamente dolorosos, desafiantes e angustiantes", augurou.
O conflito em curso em Gaza foi desencadeado por um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano Hamas em solo israelita, em 7 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
Após o ataque do Hamas, Israel desencadeou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que já provocou quase 47 mil mortos, na maioria civis, e um desastre humanitário, desestabilizando toda a região do Médio Oriente.
[Notícia atualizada às 23h20]
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