África vê "luz ao fundo do túnel" após dois anos de combate à pandemia
Dois anos após o primeiro caso de covid-19 em África, o continente vê a "luz ao fundo do túnel" e pode este ano "pôr fim à perturbação e destruição que o vírus deixou no seu caminho", garante a OMS.
© Lusa
Mundo Coronavírus
"Há luz ao fundo do túnel. Este ano podemos pôr fim à perturbação e destruição que o vírus deixou no seu caminho, e recuperar o controlo sobre as nossas vidas", afirmou hoje a diretora regional da Organização Mundial de Saúde para África, Matshidiso Moeti, na conferência online semanal da organização a partir de Brazzaville.
"O controlo desta pandemia deve ser uma prioridade, mas compreendemos que não há dois países que tenham tido a mesma experiência pandémica, e cada país deve, portanto, traçar o seu próprio caminho para sair desta emergência", acrescentou a responsável.
Nos últimos dois anos, o continente testemunhou quatro vagas de covid-19, cada uma com picos mais elevados ou mais casos novos totais do que a anterior. Os surtos foram sendo impulsionados por novas variantes do vírus SARS-CoV-2, com transmissibilidades crescentes, embora não necessariamente mais fatais do que nas vagas anteriores.
Cada vaga subsequente desencadeou uma resposta mais eficaz do que a anterior. Cada vaga foi também mais curta em 23%, em média, do que a anterior. Enquanto a primeira vaga durou cerca de 29 semanas, a quarta vaga terminou em seis semanas, ou seja, cerca de um quinto do tempo, sublinhou a diretora da OMS para África.
A primeira vaga de contágios teve, por outro lado, a taxa média de casos fatais elevada, na ordem dos 2,5% das pessoas infetadas. Este número subiu para 2,7% durante a segunda vaga, impulsionada pela variante beta; desceu para 2,4% durante a terceira vaga (delta); e foi na quarta vaga o mais baixo de sempre (0,8%), representando também a primeira vez que um novo surto de casos de infeção não levou a um aumento proporcional de hospitalizações e mortes, anunciou ainda Moeti.
"Nos últimos dois anos, o continente africano tornou-se mais inteligente, mais rápido e melhor a responder a cada nova vaga de covid-19", afirmou a diretora regional da OMS.
"Contra todas as probabilidades, incluindo enormes desigualdades no acesso à vacinação, temos resistido à tempestade da covid-19 com resiliência e determinação, aproveitando a experiência acumulada por uma longa história no controlo de surtos", acrescentou Moeti.
A covid-19 cobrou um preço alto ao continente, sublinhou a responsável. "Custou-nos caro, com mais de 242.000 vidas perdidas e prejuízos tremendos para as nossas economias", disse, citando estimativas do Banco Mundial, segundo as quais a pandemia terá empurrado para a pobreza extrema até 40 milhões de pessoas em todo o continente.
Por outro lado, cada mês de atraso no levantamento das medidas de contenção é estimado em 13,8 mil milhões de dólares norte-americanos (12,07 mil milhões de euros) em produto interno bruto (PIB) perdido em África.
"Ao entrarmos nesta nova fase da pandemia, devemos usar as lições aprendidas ao longo dos últimos dois anos para reforçar os sistemas de saúde do nosso continente, de modo a estarmos mais bem preparados para lidar com as futuras vagas da doença", disse ainda Moeti.
"Uma vez que novas variantes alimentaram novas vagas, é fundamental que os países reforcem a sua capacidade de as detetar através de uma melhor sequenciação do genoma. Isto também garantirá a deteção rápida de outros vírus mortais", sublinhou.
A OMS aumentou o número de laboratórios capazes de detetar o COVID-19 de dois para mais de 900 atualmente e está a reforçar os esforços de sequenciação genética em África através de várias iniciativas. Não obstante, "a arma mais poderosa contra o surgimento de novas variantes é a vacinação", disse Moeti.
Até à data, cerca de 672 milhões de doses de vacinas anti-covid-19 foram recebidas no continente, porém, "embora África ainda esteja atrasada na vacinação, com apenas 11% da população adulta totalmente vacinada, há agora um fornecimento constante de doses a fluir", sublinhou a responsável.
Participaram na conferência de imprensa virtual, além de Moeti, Sandile Buthelezi, diretor-geral do Departamento Nacional de Saúde da África do Sul; Albert Tuyishime, chefe de Prevenção e Controlo de Doenças no Ministério da Saúde do Ruanda e Arlindo Nascimento do Rosário, Ministro da Saúde e Segurança Social de Cabo Verde.
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