O levantamento do estado de emergência é "um outro passo importante tomado pelo Governo etíope para facilitar uma resolução pacífica do conflito em curso" com os rebeldes do Tigray, disse o porta-voz da diplomacia norte-americana, Ned Price, em comunicado.
Price exigiu que "essa medida seja imediatamente seguida pela libertação de todas as pessoas presas ou detidas sem acusação durante o estado de emergência".
O responsável manifestou esperança que essa ação contribua para "facilitar um diálogo nacional inclusivo e produtivo".
A guerra no Tigray eclodiu em 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército federal para aquele estado no norte do país, com a missão de retirar pela força os dirigentes locais da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF, na sigla em inglês) que vinham a desafiar a autoridade de Adis Abeba há muitos meses.
O pretexto específico da invasão foi um alegado ataque das forças estaduais a uma base militar federal no Tigray, e a operação foi inicialmente caracterizada por Adis Abeba como uma missão de polícia, que tinha como objetivo restabelecer a ordem constitucional e conduzir perante a justiça os responsáveis pela sua perturbação continuada.
No quadro de estado de exceção, aconteceram detenções em massa de pessoas de etnia Tigray em Adis Abeba e no resto do país, desencadeando uma série de condenações de organizações internacionais de defesa dos direitos humanos.
De acordo com a AFP, ainda não foi possível apurar se, ou quando, essas pessoas serão libertadas.
"Os EUA continuam a dialogar com todas as partes para promover uma cessação imediata das hostilidades, um acesso humanitário sem entraves, inquéritos transparentes a todas as violações dos direitos humanos e uma resolução negocial do conflito", acrescentou Ned Price.
Os deputados etíopes aprovaram hoje o fim do estado de emergência que vigorava há pouco mais de três meses do país, em mais um sinal auspicioso de que as conversações de paz no Tigray prosseguem no bom caminho.
A votação de hoje no Parlamento etíope sucede à decisão do Conselho de Ministros etíope, presidido pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed, no passado dia 26 de janeiro de antecipar o fim o estado de emergência, inicialmente imposto para vigor seis meses, citando os recentes desenvolvimentos no conflito.
O estado de emergência foi imposto no início de novembro, quando as forças leais às autoridades estaduais de Tigray e forças aliadas do estado vizinho de Oromia lutavam contra as forças federais etíopes e se aproximavam da capital, Adis Abeba.
As forças rebeldes retiraram-se para Tigray no final de dezembro, em resposta aos esforços de mediação, nomeadamente da União Africana, e sob a pressão de uma ofensiva militar federal apoiada por drones.
De acordo com várias organizações de defesa dos direitos humanos, milhares de pessoas de etnia tigray foram detidas ao abrigo do estado de emergência, muitas foram libertados após o volte-face da guerra em dezembro.
O conflito na Etiópia provocou a morte de vários milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, de acordo com a ONU.
A ajuda humanitária aos mais de seis milhões de pessoas no estado de Tigray continua muito limitada, em face ao que as Nações Unidas descreveram como um "bloqueio humanitário de facto".
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