"Para nosso grande pesar, o secretário-geral das Nações Unidas (...) ficou sob a pressão do Ocidente e fez várias declarações sobre o que está a acontecer no leste da Ucrânia que não estão de acordo com o seu estatuto e poderes sob a Carta da ONU", disse Sergei Lavrov no início de sua reunião com o enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Geir Pedersen.
O chefe da diplomacia russa afirmou que "em qualquer conflito (...) o Secretariado-Geral da ONU é obrigado a manter a imparcialidade e é sempre obrigado a defender o diálogo direto entre os países em conflito".
No entanto, considerou que Guterres "nunca levantou a voz a favor da necessidade de cumprir os requisitos do Acordo de Minsk (para a paz em Donbass) apoiado pela resolução 2202 do Conselho de Segurança, que exige diretamente a resolução de todos os problemas através do diálogo entre Kiev, Donetsk e Lugansk".
"Ninguém no Ocidente jamais mencionou isso e, infelizmente, o secretário-geral seguiu esses tristes exemplos", disse Lavrov.
Pedersen defendeu Guterres ao sublinhar que o secretário-geral "manifestou a sua preocupação com a recente decisão do Governo russo relativamente às duas autoproclamadas repúblicas [de Donetsk e Lugansk] e apelou também à diminuição da tensão e ao diálogo, bem como a uma solução pacífica para esta crise com base nos princípios da Carta da ONU".
"Espero que [Guterres] possa contribuir para a concretização destes objetivos", disse Pedersen.
O enviado especial da ONU lembrou que o secretário-geral da ONU "enfatizou o apoio contínuo da ONU a princípios como a soberania e a integridade territorial da Ucrânia, em estrita adesão aos princípios da Carta da ONU e resoluções relevantes da Assembleia-Geral e do Conselho de Segurança da ONU".
Além disso, o enviado especial da ONU para a Síria expressou a preocupação de que "o desenvolvimento de eventos (em torno da Ucrânia) possa ter um impacto negativo na resolução do conflito na Síria".
"Espero que isso não aconteça", enfatizou Pedersen.
A Rússia reconheceu na segunda-feira como independentes os dois territórios ucranianos separatistas de Donetsk e Lugansk.
Na terça-feira, as autoridades russas esclareceram que o reconhecimento se refere ao território ocupado quando as autoproclamadas repúblicas anunciaram o estatuto em 2014, o qual inclui o espaço atualmente detido pelas forças ucranianas.
O Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou ainda que as forças armadas russas poderão deslocar-se para as autoproclamadas repúblicas separatistas pró-russas em missão de "manutenção da paz", decisão que já foi autorizada pelo Senado russo.
Entretanto, a Ucrânia determinou a mobilização de militares na reserva para reforçar o exército.
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