Nove desses legionários tinham uma licença, embora esta não lhes permitisse abandonar território francês, ao passo que os outros cinco se encontravam em situação de "ausência irregular", quatro dos quais eram já considerados "desaparecidos", declarou o comandante da Legião Estrangeira, general Alain Lardet, citado pela agência noticiosa francesa AFP.
Foi impossível determinar de imediato se os 14 homens tencionavam ir combater ou simplesmente ajudar os familiares que fugiram da Ucrânia, não tendo sido encontradas armas ou equipamento proibido nas suas bagagens, disseram diversas fontes militares.
Em contraste, entre os outros passageiros civis do autocarro, alguns estavam na posse de materiais que indicavam que partiam para combater, precisou uma das fontes.
A Legião Estrangeira é uma unidade de elite do Exército francês com mais de 9.000 homens, à qual se podem juntar recrutas dos 17 aos 39 anos de todo o mundo. Ao fim de alguns anos ou devido ao "derramamento de sangue" em combate, os legionários podem pedir a nacionalidade francesa.
Entre eles, há 710 soldados de origem ucraniana, 210 dos quais já naturalizados franceses, e 450 de origem russa, mas "nenhuma tensão entre as comunidades", frisou o general Lardet.
Desde o início da ofensiva russa na Ucrânia, a 24 de fevereiro, registou-se, contudo, "uma grande agitação entre os ucranianos, preocupados com as suas famílias", prosseguiu.
A Legião concede aos seus membros, se estes solicitarem, "uma licença excecional de 15 dias" para ir a um país fronteiriço com a Ucrânia com o objetivo de ir "buscar" e "pôr em segurança" os seus familiares, mas proíbe-os de atravessar a fronteira, segundo o seu comandante.
Apesar de 25 licenças excecionais terem sido assinadas na terça-feira e de "muitas outras" irem ser assinadas hoje, os nove detidos em Paris na terça-feira apenas tinham uma licença clássica que os limitava à "metrópole" francesa, comentou. Não deverão, no entanto, ser punidos pelo facto de o novo regime de licenças lhes ter sido mal explicado.
Os outros cinco cometeram "uma falta grave contra o código de honra dos legionários" e serão "sancionados com dias de suspensão".
No total, 25 legionários de origem ucraniana desertaram na última semana, metade dos quais para combater os russos, observou o general Lardet.
"A Legião cortou os laços. Eles estão empenhados numa causa que eu não julgo", comentou o responsável.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já mataram mais de 2.000 civis, incluindo crianças, segundo o mais recente balanço de Kiev, que não precisa o número de baixas militares. A ONU deu conta de mais de 100 mil deslocados e de pelo menos 836 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia desde o início da invasão.
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a "operação militar especial" na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções para isolar ainda mais Moscovo.
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