Videojogos e mortos que mexem: sete "fake news" da guerra na Ucrânia

A invasão da Ucrânia pela Rússia e a guerra que se seguiu abriram uma nova frente de combate no ciberespaço, com "fake news", desinformação e propaganda 'online', com imagens antigas e até de videojogos.

Notícia

© Photo by ARIS MESSINIS/AFP via Getty Images

Lusa
16/03/2022 10:09 ‧ 16/03/2022 por Lusa

Mundo

Desinformação

Nas últimas semanas, os 'media' e 'fact checkers' europeus e americanos têm "desmontado" algumas das mentiras, fabricadas de um lado e de outro da frente de batalha.

É impossível saber o número certo de "fake news" que circulam na Net, e que chegam os ecrãs das televisões, mas o 'site' maldita.es identificou, em pouco mais de duas semanas, 102 de informações falseadas, sejam imagens, sejam vídeos, sejam notícias ou publicações nas redes sociais.

Há, na Europa, e no mundo, dezenas de 'fact chekers', como o maldita.es, o www.bellingcat.com, grupo internacional independente de investigadores e jornalistas, mas também associados a media, como os departamentos de verificação de factos da AFP, da EFE ou da BBC. Em Portugal, há vários órgãos de informação com verificadores, como o Observador e a SIC.

Os soldados ucranianos que não morreram

Logo nas primeiras horas da invasão russa, em 24 de fevereiro, o Presidente ucraniano homenageou "13 heróis" guardas fronteiriços mortos pelos militares de Putin, na ilha de Zmiinyi, no Mar Negro. Quatro dias depois, a informação é retificada pelas forças armadas ucranianas que confirma que os soldados foram detidos e não mortos. A informação errada continuou a ser repetida nas redes sociais, segundo a AFP Fact Check.

Atores e atrizes

Nas primeiras horas da guerra, circulou um vídeo no Facebook em que se via um soldado a ser "maquilhado" com feridas de sangue na cara. O objetivo era passar a ideia de que a invasão era uma mistificação, segundo a BBC. Na realidade, aquelas eram imagens de uma série de tv ucraniana, Contamin, de 2020.

Os "mortos" que se mexem

O vídeo, no Twitter, mostrava um repórter, de máscara, em frente a um grande número de sacos com cadáveres. A certa altura, via-se alguém a mexer-se e sair de um dos sacos. Quem partilhava, segundo a BBC, pretenderia provar que a guerra era uma fabricação da responsabilidade da "propaganda ocidental". E também foi partilhado por grupos negacionistas da covid-19.

Na realidade, tratava-se de imagens de um protesto de ativistas contra as alterações climáticas, em fevereiro, em Viena.

Steven Seagul na Ucrânia? 

Era um falso 'tweet' da CNN e mostrava uma imagem do ator norte-americano Steve Seagul alegadamente a lutar "ao lado das forças especiais russas" perto de Kiev, na Ucrânia. Joe Rogan, comediante e autor de um famoso 'podcast', partilhou a imagem entre os seus 14 milhões de seguidores nas redes sociais. A CNN desmentiu a informação e Rogan retirou a publicação, ainda segundo a BBC.

O diplomata russo que partilhou falso 'tweet' 

A notícia era falsa e foi partilhada no Twitter por um embaixador russo, Dmitri Polyansky, da representação da Rússia na ONU, com o alerta de que os media ocidentais manipulavam o que estava a passar-se na Ucrânia. No seu 'tweet', o diplomata escrevia que a CNN International divulgara uma notícia falsa, a morte o jornalista Bernie Gores na Ucrânia. "A principal batalha não é na Ucrânia, é nas mentiras e nas falsas notícias dos 'media mainstream'", afirmava. Afinal, tudo era falso: a morte do jornalista, que a CNN tenha dado a notícia. Tudo falso, exceto a foto de Jordie Jordan, um 'youtuber' que continua vivo e fazer as suas emissões.

Zelensky fugiu, não fugiu

A agência TASS citava um deputado russo para escrever que o Presidente ucraniano tinha "fugido à pressa" de Kiev, em direção a Lviv, apesar das imagens de Volodomyr Zelensky a mostrar que continuava na capital. Sarah Oates, professora na universidade de Maryland, que estuda a propaganda, disse ao Inquirer, de Filadélfia, que o objetivo de Moscovo era óbvio: minar a credibilidade de Zelensky como líder de um país em guerra e também que as fontes oficiais ucranianas não são credíveis. Nem a TAS nem a agência Sputnik corrigiram o despacho anterior.

Filmes e videojogos

Circulou nas redes sociais um pequeno filme em que se viam centenas de pessoas a correr aos gritos, alegadamente na Ucrânia. Mas não era nada disso. Tratava-se de filmagens de um filme de ficção científica, "A invasão do Planeta Terra", de 2013. O realizador, Simon Cox, confessou-se chocado com a utilização das imagens.

E um vídeo em que alegadamente se via um avião ucraniano a abater um caça russo, divulgado pela Nexta TV, um canal bielorrusso, visto perto de um milhão de vezes, era afinal feito com imagens do videojogo Arma3.

Leia Também: "Pai, acredite em mim". Desinformação do Kremlin divide famílias

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