Marina Ovsyannikova, a jornalista que protestou contra a guerra na Ucrânia em direto durante o noticiário de um canal de notícias russo, disse em entrevista que "era impossível ficar em silêncio".
"Não, não tenho medo, mas, atualmente, sinto uma grande responsabilidade. Apercebi-me que a minha vida mudou irremediavelmente", disse em entrevista à jornalista Christiane Amanpour.
Numa entrevista à CNN Internacional, disse que protestou com o cartaz de forma espontânea, mas que a ideia foi crescendo em si.
"Tenho sentido, cada vez mais, uma desconexão cognitiva entre aquilo em que acreditamos e o que dizemos no ar", afirmou Ovsyannikova, que acrescentou: "A guerra foi o ponto sem retorno, foi simplesmente impossível ficar em silêncio."
A jornalista referiu que tinha previsto ficar atrás das câmaras, mas no momento quis garantir que as palavras de protesto escritas no cartaz fossem vistas, sendo que teve "medo até ao último minuto". "Movimentei-me rapidamente, passei pela segurança e mostrei o meu cartaz", relatou a jornalista. Foram cerca de cinco segundos, revela.
Marina é filha de pai ucraniano e mãe russa e refere que decidiu agir quando se recordou dos ataques aéreos na Chechénia, onde viveu quando era jovem.
Quanto aos colegas da estação, revela que ainda não falou com ninguém mas diz que sabe que alguns colegas de profissão começaram a despedir-se. Segundo Marina, muitos sabem que existe uma diferença entre a realidade e aquilo que é transmitido pelos canais de televisão russos, e revelou que a propaganda é tão poderosa que até a mãe sofre com a "lavagem cerebral". Diz não consegue falar com a mãe por mais de cinco minutos até que esta comece a repetir frases feitas da propaganda do Kremlin.
Marina Ovsyannikova afirmou ainda que a "sociedade russa está dividida" em duas, uma que defende a guerra e outra que está contra ela. Por fim, diz que não sabe o que fará amanhã mas que para já os filhos estão a salvo e que ela está em casa de amiga, resguardada.
Esta segunda feira à noite, a mulher interrompeu um direto com um cartaz que dizia: "Não acredite na propaganda, eles estão a mentir. Russos contra a guerra". O vídeo foi amplamente divulgado na Rússia através da rede social Telegram. Foi-lhe aplicada uma multa de 30 mil rublos (o equivalente a 238 euros), tendo em conta a desvalorização da moeda russa.
Milhares de russos já foram detidos por se manifestarem no país e os meios de comunicações social têm regras restritas para se referir à invasão de Putin.
Leia Também: Ucrânia. ONU confirma 780 civis mortos e 1.252 feridos até quarta-feira