Putin recorre à Bíblia para elogiar sacrifício dos soldados russos
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, recorreu hoje à Bíblia para elogiar o sacrifício dos soldados russos na Ucrânia, ao participar numa manifestação patriótica em Moscovo que assinalou o oitavo aniversário da anexação da Crimeia.
© Getty Images
Mundo Guerra na Ucrânia
Numa rara aparição pública e num discurso perante dezenas de milhares de pessoas que enchiam o estádio Luzhniki de Moscovo e agitavam bandeiras da Rússia, Putin destacou a ação dos soldados russos na Ucrânia.
"As palavras da Bíblia Sagrada vêm-me à cabeça: não há maior amor do que dar a vida pelos amigos", disse Putin, citado pela agência russa TASS, ao justificar a invasão para proteger a população russófona no leste da Ucrânia.
"Ombro a ombro, eles ajudam-se e apoiam-se mutuamente", afirmou, saudado pela multidão.
A Rússia não tem divulgado as suas baixas na guerra da Ucrânia, que invadiu em 24 de fevereiro, mas chegou a admitir 498 mortos após sete dias de combates. Os ucranianos dizem que mataram mais de 14.000 russos e os Estados Unidos estimaram anteriormente as perdas de Moscovo entre 2.000 e 4.000 soldados.
Segundo imagens divulgadas pela agência russa TASS, Putin discursou no palco central do estádio, onde o aniversário da anexação da Crimeia foi celebrado com um concerto.
O discurso foi transmitido em direto pela televisão Rossiya-24, mas Putin desapareceu subitamente dos ecrãs quando falava sobre a guerra na Ucrânia e o canal estatal começou a mostrar outros momentos do mesmo evento, retomando a emissão em direto 15 minutos mais tarde, com o resto do discurso já em diferido.
O porta-voz do Kremlin (Presidência), Dmitri Peskov, informou mais tarde as agências russas de que a interrupção da emissão se deveu a uma "falha técnica num servidor".
"Há muito tempo que não tínhamos uma unidade como esta", afirmou o líder russo, citado pela agência norte-americana AP.
A polícia russa, segundo a TASS, disse que mais de 95.000 pessoas estiveram no interior do estádio e outras 100.000 na zona exterior do complexo.
"Nos últimos cinco anos, um número tão elevado de pessoas não visitou o estádio, mesmo durante o Campeonato Mundial de Futebol em 2018", disse o vice-presidente da câmara de Moscovo, Maxim Liksutov.
Algumas pessoas, incluindo os apresentadores do evento, usavam T-shirts ou casacos com um "Z", um símbolo visto em tanques e veículos militares russos na Ucrânia e que tem sido utilizado por apoiantes da guerra.
Antes do discurso de Putin, bandas tocaram canções soviéticas patrióticas sobre a identidade nacional.
Vários dos oradores elogiaram Putin por estar a "combater o nazismo" na Ucrânia, um dos motivos que o líder russo usou para justificar a nova invasão do país vizinho, em 24 de fevereiro.
A TASS disse que a confiança dos russos em Putin aumentou desde a guerra na Ucrânia, atingindo cerca de 80%, de acordo com uma sondagem oficial.
Sobre a Crimeia, Putin justificou a invasão e anexação com a necessidade de tirar a região do sudeste da Ucrânia do "estado abjeto" em que tinha mergulhado "quando fazia parte de outro Estado".
A Rússia oficializou a "reintegração da Crimeia na Federação Russa" em 18 de março de 2014, dois dias depois de um referendo na península do sudeste da Ucrânia, não reconhecido pela comunidade internacional.
Em abril de 2014, eclodiu uma guerra separatista no Donbass, no leste da Ucrânia, com apoio de Moscovo, que provocou 14.000 mortos em oito anos, apesar da assinatura dos Acordos de Paz de Minsk em fevereiro de 2015.
Antes de anunciar a atual "operação militar especial" na Ucrânia em 24 de fevereiro, Putin reconheceu a independência das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, no Donbass.
Putin utilizou como um dos argumentos para a invasão o alegado "genocídio" cometido pelo exército ucraniano contra os habitantes do Donbass, onde mais de 700.000 pessoas receberam passaportes russos nos últimos anos.
Desconhece-se o número de baixas civis e militares na guerra da Ucrânia, que entrou hoje no 23.ºo dia.
Até quarta-feira, a ONU tinha confirmado a morte de 780 civis, incluindo 58 crianças, mas alertou que os números reais "são consideravelmente mais elevados".
A guerra também levou mais de 3,2 milhões de pessoas a fugir da Ucrânia para os países vizinhos, na pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
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