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Argentina quer acordo de preços para conter inflação agravada pela guerra

O Presidente argentino anunciou um fundo de estabilização para conter os aumentos de preços, agravados pela guerra na Ucrânia, e prometeu uma batalha contra os especuladores, mas adiou medidas concretas contra a inflação.

Argentina quer acordo de preços para conter inflação agravada pela guerra
Notícias ao Minuto

06:16 - 19/03/22 por Lusa

Mundo Argentina

"Decidi constituir um fundo de estabilização para evitar que os aumentos dos preços internacionais cheguem aos argentinos. Instruí os meus ministros para que tomem as medidas necessárias para enfrentar a inflação. A nossa batalha é contra os especuladores, contra os gananciosos", anunciou Alberto Fernández, através de uma mensagem divulgada na rádio e televisão públicas.

O Presidente avisou que, a partir de segunda-feira, vai convocar todos os agentes económicos, desde empresários a comerciantes, passando por trabalhadores e produtores agrícolas.

Os preços ao consumidor aumentaram 52,3% nos últimos 12 meses.

"Confiamos em acordos que ajudem a baixar a inflação e a garantir o aumento do poder de compra dos salários", indicou Fernández, sem especificar nenhuma medida concreta.

"Não vamos deixar de controlar e de fiscalizar os preços e de aplicar a lei de abastecimento, se for necessário", advertiu, referindo-se a uma lei que permite intervir em empresas, confiscar mercadorias, obrigar à produção de determinadas quantidades, além de estabelecer preços e margens de lucro.

"Estamos numa situação extraordinária que requer soluções extraordinárias. Precisamos de lutadores contra a especulação e contra a inflação em cada comércio, em cada mesa, em cada casa", disse Fernández.

Nesta semana, o Governo revelou que os preços ao consumidor aumentram 4,7% em fevereiro, dando a Argentina a maior taxa de inflação do continente americano, à frente, inclusive, da Venezuela, com 2,9%.

O aumento dos alimentos chegou a 7,5% em fevereiro e a cesta básica tornou-se 9% mais cara, indicando que a inflação afeta sobretudo os mais pobres.

Nos primeiros dois meses do ano, a inflação na Argentina soma 8,8% e deve superar os 14% no trimestre, se as projeções para março, acima de 5%, estiverem corretas.

Os números indicam que a inflação já tinha acelerado, antes da invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro. A guerra reforçou a tendência, apesar dos controlos de câmbio e de preços e do congelamento de tarifas na Argentina.

"Seria um absurdo culpar a guerra pela nossa inflação, mas está a incidir negativamente, aumentando os problemas. O contexto internacional complica ainda mais as coisas. A inflação é um sério problema e a guerra agrava-o", alertou Alberto Fernández.

A Argentina tem uma população de 45 milhões de habitantes, mas produz alimentos para 450 milhões, sobretudo grãos, cereais e carnes. O país era autossuficiente em energia, mas, devido ao congelamento de tarifas, passou a deficitário, tendo de importar gás natural e petróleo. O aumento no preço dos bens agrícolas provocado pela guerra não tem compensado o défice gerado pelo aumento nos combustíveis.

"Nós produzimos muitos alimentos, mas a formação de preços não depende de nós. Formam-se nos mercados internacionais, cujos valores pressionam os preços internos. As suas consequências já estão na Argentina", explicou o Presidente, destacando "o aumento de 300 a 400 dólares [270 a 360 euros] na tonelada de trigo com consequências nos preços do pão, das massas e da farinha".

Durante a semana, Fernández tinha prometido medidas económicas no que chamou de "guerra contra a inflação" na Argentina. O anúncio surgiu após o Parlamento ter aprovado, na noite de quinta-feira, um acordo financeiro com o Fundo Monetário Internacional.

O Presidente considera que "o acordo com o FMI permite começar a ordenar as variáveis macroeconómicas centrais na luta contra a inflação".

"É o ponto de partida para acalmar as expectativas de desvalorização que só aceleram a inflação", concluiu.

Leia Também: Senado da Argentina aprova novo acordo financeiro com FMI

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