Missão de paz da NATO na Ucrânia seria "muito irresponsável", diz Moscovo
As declarações foram proferidas depois de a Polónia ter defendido, na semana passada, que uma missão internacional de manutenção da paz deveria ser enviada para solo ucraniano.
© Mikhail Svetlov/Getty Images
Mundo Ucrânia/Rússia
Dmitry Peskov, porta-voz do parlamento russo, avisou esta quarta-feira que o envio de uma missão de paz da NATO para a Ucrânia seria “muito irresponsável”, depois de a medida ter sido defendida pela Polónia, na semana passada. O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, foi mais longe, advertindo que a proposta poderá originar um confronto direto entre a Rússia e a aliança militar.
Para o porta-voz russo, qualquer contacto entre a Rússia e a NATO terá “consequências claras que seriam difíceis de reparar”, advertindo que a proposta do vice-primeiro-ministro polaco, Jaroslaw Kaczynski, seria “uma decisão muito irresponsável e extremamente perigosa”.
Também Sergei Lavrov condenou a medida esta quarta-feira, alertando que poderá originar um confronto direto entre a Rússia e a aliança militar.
“Seria um conflito direto entre a Rússia e as forças armadas da NATO, que todos temos tentado evitar e que dissemos que não teria lugar”, apontou.
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo considerou a proposta da Polónia, um dos principais aliados de Kyiv e destino de milhões de refugiados ucranianos, como uma provocação, acusando aquele país de ter ambições territoriais na Ucrânia.
Lavrov também criticou os Estados Unidos por terem entregado, nos últimos dias, centenas de mísseis antiaéreos Stinger à Ucrânia, incluindo 200 enviados na segunda-feira, o que disse representar "uma ameaça colossal".
As críticas a Washington não ficaram por aqui, tendo o ministro russo acusado os Estados Unidos de estarem interessados em prolongar "o mais possível" a atual "operação militar" russa na Ucrânia.
"Eles [os EUA] esperam continuar a fornecer armas à Ucrânia. É claro que querem manter-nos o mais tempo possível em estado de combate", afirmou.
Por outro lado, o chefe da diplomacia russa criticou também Kyiv, referindo que muda constantemente a sua posição nas negociações, durante as quais "a delegação ucraniana anda de mãos dadas com os Estados Unidos".
Uma estratégia que, de acordo com Lavrov, é evidenciada pelos últimos discursos do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, perante os parlamentos de vários países ocidentais.
"O atraso [das negociações] visa dramatizar a situação, permitindo que Zelensky intervenha, na sua camisa caqui, perante os parlamentos do mundo e exija, com lágrimas nos olhos, a intervenção da NATO", disse.
Lavrov assegurou que Moscovo não se opõe à mediação do conflito pelos países ocidentais, mas sublinhou que existem "linhas absolutamente vermelhas" que não podem ser ultrapassadas e avisou que as tentativas de isolar o seu país e a pressão dos EUA para que todas as potências mundiais se unam às sanções ocidentais, vão esbarrar no facto de a Rússia "ter muitos amigos".
A cimeira extraordinária da NATO, convocada pelo secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, vai acontecer no mesmo dia em que se realizam, em Bruxelas, uma cimeira do G7 e uma cimeira da União Europeia.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que marcará presença nos três eventos, anunciou que os ocidentais vão aplicar "novas sanções contra a Rússia e reforçar" as que já existem.
Recorde-se que, durante uma visita a Kyiv na semana passada, Kaczynski defendeu que a NATO deveria enviar uma “missão de paz” para a Ucrânia, de modo a prestar ajuda “humanitária e pacificadora”.
A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou pelo menos 953 mortos e 1.557 feridos entre a população civil, incluindo mais de 180 crianças, e provocou a fuga de mais 10 milhões de pessoas, entre as quais 3,53 milhões para os países vizinhos, segundo os dados mais recentes da ONU.
Cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia, indica o organismo.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
[Notícia atualizada às 13h36]
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