"Estávamos muito ocupados a preparar a transição 'verde', a preparar a revolução digital e a preparar a coesão social das nossas sociedades e a recuperação após a pandemia e, de repente, a guerra surgiu não muito longe e isto foi certamente uma chamada de atenção para os europeus", defendeu Josep Borrell.
Falando num debate sobre "o nascimento da Europa geopolítica" com a guerra da Ucrânia, promovido pelo grupo de reflexão Conselho Europeu de Relações Externas (European Council on Foreign Relations -- ECFR), em Bruxelas, o chefe da diplomacia da UE apontou que "já foi feito muito" para responder à ofensiva russa, num "ritmo que tem sido supersónico de implementação de decisões e de medidas".
Ainda assim, "certamente não é suficiente" e, por isso, esta resposta europeia "não pode só surgir após chamadas de atenção, tem de ser o normal", defendeu Josep Borrell.
Para o Alto Representante da UE para a Política Externa, o bloco comunitário "tem de ser um poder superior", em termos de infraestruturas militares, mas também de preparação para ultrapassar "questões de coerção" relacionadas com terceiros, como a Rússia, face à dependência energética.
"A tarefa mais importante é ultrapassar a nossa fraqueza de segurança, eliminar a nossa dependência energética e adaptar as nossas instituições ao necessário para sermos um verdadeiro poder e isto tem de ser o normal, não pode ser um despertar, temos de estar permanentemente neste barco", elencou Josep Borrell.
O chefe da diplomacia europeia vincou ainda que a UE tem de "estar muito consciente da sua vontade do ponto de vista da segurança e defesa e aumentar as suas capacidades de segurança e defesa, tanto ao nível dos Estados-membros, como ao nível da União Europeia e da NATO [Organização do Tratado do Atlântico Norte]".
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.179 civis, incluindo 104 crianças, e feriu 1.860, entre os quais 134 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 3,9 milhões de refugiados em países vizinhos e quase 6,5 milhões de deslocados internos.
A ONU estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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