O Chefe de Estado da Ucrânia fez uma alusão ao comércio de diamantes, do qual a cidade belga de Antuérpia é uma praça forte na Europa.
"Penso que a paz tem um pouco mais de valor do que os diamantes, do que os acordos com a Rússia, do que os barcos russos nos portos, mais também do que o petróleo e o gás russos. Então ajudem-nos!", atirou perante o parlamento belga.
"Há pessoas para quem os diamantes russos, que por vezes se vendem em Antuérpia, são mais importantes. Para quem aceitar barcos russos nos seus portos e para quem as entradas desses barcos são mais importantes do que as nossas lutas", disse o Presidente Zelensky.
Zelensky agradeceu a ajuda militar e humanitária dos belgas, mas lamentou que nem na Bélgica, nem nos restantes países europeus, haja "a coragem suficiente" para ajudar os ucranianos a parar "a catástrofe" que vivem.
"Pergunto a todos os europeus que me escutam: o que esperam estes defensores de Mariupol, os defensores de todos os locais onde se travam as batalhas?".
O Presidente ucraniano recordou, em particular, as batalhas de Ypres, localidade belga que sofreu grandes danos tanto na Primeira como na Segunda Guerra Mundial.
Durante a primeira contenda, as tropas alemãs libertaram várias toneladas de cloro que causaram a morte por asfixia ou ferimentos graves em milhares de soldados, naquele que se considera ser o primeiro ataque químico da era moderna. Na segunda, os alemães usaram pela primeira vez gás mostarda.
Neste sentido, Zelensky disse que no seu país estão a travar-se "batalhas não menos terríveis do que a de Ypres", quem sabe até "piores", em Mariupol.
"Aqui lutamos contra a tirania que quer dividir a Europa, que quer destruir aqueles para quem a liberdade é essencial", disse.
Neste contexto, reiterou a convicção de que um dia a Ucrânia fará parte da União Europeia, algo que, considerou, também ajudará os países europeus a defenderem-se da tirania.
A seguir a Zelensky, que os deputados belgas aplaudiram longamente em pé, tomou a palavra o primeiro-ministro do Governo de coligação, Alexander De Croo, que considerou que a Europa "cometeria um erro terrível" se fizesse esperar a Ucrânia "até ao processo formal de adesão à UE".
"A adesão é um processo longo e exigente, com razão. Por isso precisamos de uma solução mais rápida e direta. Uma integração económica acelerada da Ucrânia e da Europa", defendeu o político liberal belga, que citou também a possibilidade de a Ucrânia beneficiar do programa Erasmus para estudantes.
De Croo saudou Zelensky e o seu povo pela luta que travam pela sobrevivência da Ucrânia e pelos "valores comuns de liberdade e democracia".
Face ao pedido de ajuda militar por parte da NATO, o primeiro-ministro justificou a falta de resposta à pretensão ucraniana de estabelecer uma zona de exclusão aérea.
"Sejamos claros: isto significaria derrubar aviões russos e desencadear assim uma escalada que poderia derivar a toda a Europa. Haveria ainda mais vítimas, a guerra alastrar-se-ia e estaríamos mais longe de uma solução. A NATO não é parte neste conflito", disse De Croo, que afirmou entender a "frustração" de Zelensky e que a Bélgica elegeu o seu "grupo" e continuará a "apoiar a Ucrânia".
"O apoio político, inflingindo elevados custos económicos à Rússia. Apoio diplomático, isolando a Rússia. Apoio militar e humanitário, acolhendo as pessoas que fogem aos milhares das bombas russas", precisou De Croo, ao referir as medidas tomadas.
O parlamento belga é o 15.º a que se dirige Zelensky desde o início da guerra na Ucrânia, a 24 de fevereiro. Antes pronunciou discursos perante os legisladores dos Estados Unidos, de França, da Alemanha, do Reino Unido e do Parlamento Europeu.
Hoje de manhã, esteve em videoconferência nos parlamentos da Austrália e dos Países Baixos.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.189 civis, incluindo 108 crianças, e feriu 1.901, entre os quais 142 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 4 milhões de refugiados em países vizinhos e quase 6,5 milhões de deslocados internos.
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