Em entrevista à Lusa, Borys Filatov salientou que a ajuda internacional tem sido "absolutamente insuficiente" porque se trata de "uma guerra absolutamente a preto e branco", sem qualquer "zona cinzenta".
"Se se pudesse tentar procurar alguma verdade em qualquer outra guerra, este caso é o de uma guerra a preto e branco, talvez a única na história", e "mostrou a divisão absoluta de qualquer sistema de segurança internacional, a inutilidade da ONU, a inutilidade da OSCE [Organização para a Segurança e Cooperação na Europa], a inutilidade da Cruz Vermelha, da burocracia mundial que tem gasto milhares de milhões de dólares ao longo dos anos, e que se tornou totalmente inútil e totalmente impotente", afirmou o presidente da Câmara de Dnipro.
Vestido com roupa verde tropa, Borys Filatov, que gere a cidade ucraniana que atende ao maior afluxo de deslocados de guerra, em fuga de teatros violentos como Mariupol, Donbass, Zaporijia ou Kharkiv, critica os líderes mundiais.
"Parece que a burocracia mundial está sempre a ficar para trás na tomada de decisões, era óbvio que a guerra estava à porta, estávamos a dizer que precisávamos das sanções preventivas, não após o facto consumado", salientou.
E continuou: "Pedimos as armas e elas chegam sempre tarde. O mundo está sempre a ficar para trás com esta guerra, mas temos de pagar com milhares de vidas do nosso povo, e com as cidades obliteradas".
A guerra na Ucrânia levou à subida dos preços dos combustíveis, mas também afetou outros setores já que se tratam de duas das maiores potências agroindustriais do mundo.
"Um dos efeitos secundários agora é que os preços dos alimentos sobem, e é bem possível que em breve, no Médio Oriente e em África, a fome venha a atacar", disse o autarca, acrescentando que, sobre esta matéria, a Ucrânia também avisou "a ONU e muitos outros burocratas inúteis do mundo".
Para o autarca, que gere a cidade que tem acolhido mais deslocados de guerra do país, vindos do leste, norte e sul, em fuga dos combates em cidades como Zaporijia, Mariupol, Kharkiv ou a região de Donbass, "os russos nunca poderão ser confiáveis em circunstância alguma, nunca os deixem entrar no vosso negócio; é um país de excluídos e precisa de ser retirado do mapa político do mundo; construam uma cerca alta e de betão à sua volta, e suspendam quaisquer relações diplomáticas".
Sem discutir questões militares, Filatov admitiu que o primeiro mês de guerra deu tempo a Dnipro para se preparar, até porque é a segunda maior cidade de um leste do país mais russófono.
"Chernihiv, Kharkiv, Kiev, Mariupol apanharam um golpe maior e isso deu-nos tempo", afirmou Filatov, que comentou a possibilidade de a Ucrânia ser dividida em duas partes, com o lado russófono -- que inclui Dnipro -- nas mãos de Moscovo.
"Desde os tempos antigos de Sparta, há a expressão 'Molon labe', que significa 'venham e tomem'. Por isso, não interessa o que a Rússia deseja, eles podem desejar o que quiserem, nós não os vamos deixar tomar", afirmou Filatov.
"Eles diziam que iriam conquistar Kiev em 48 horas e teriam uma parada em toda a Ucrânia em 72 horas. Eles que tentem e se quiserem incluir Dnipro na parte russa eles vão perder dezenas de milhares de pessoas".
A cidade, com uma população de um milhão de habitantes, enfrenta hoje o desafio de encaminhar os deslocados de guerra. "Somos um ponto de trânsito o que é fácil para nós porque as pessoas ficam cá apenas uns dias e depois vão para outro sítio", disse Borys Filatov, salientando que os registos ferroviários indicam o transporte de 200 mil pessoas em fuga do leste.
"O nosso maior problema são os idosos. Porque se as pessoas são novas e têm algum dinheiro elas podem mover-se. Mas ficam cá os mais velhos, os mais doentes que não podem ir para lado nenhum", tudo "gente que vem para Dnipro sem objetivo, apenas para virem cá morrer porque os seus filhos foram para fora", acrescentou.
Mais do que alimentos ou roupa, a cidade necessita de "medicamentos específicos" como "para cancro ou drogas raras", tudo bens que são difíceis de adquirir.
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