Intervindo através de uma mensagem vídeo gravada na apresentação dum relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, António Guterres afirmou que as suas conclusões são "uma litania de promessas climáticas quebradas, um arquivo vergonhoso que cataloga os compromissos vazios" que colocam o mundo no caminho de se tornar irrespirável.
"Alguns governos e líderes empresariais dizem uma coisa e fazem outra. Estão a mentir e a deitar gasolina no fogo", acusou António Guterres, considerando que as conclusões do painel são "um veredito condenatório" das suas ações.
Salientando que não se trata de "ficção ou exagero", elencou "cidades submersas, ondas de calor sem precedentes, tempestades terríveis, falta de água generalizada e extinção de um milhão de espécies de plantas e animais" como consequências "das políticas energéticas atuais".
Enquanto as conclusões dos cientistas do clima são um aviso de que se está "perigosamente perto de pontos sem retorno que poderão levar a impactos em cascata irreversíveis", os líderes que continuam a investir em combustíveis fósseis "estão a asfixiar o planeta baseados nos seus interesses e numa história de investimento em combustíveis fósseis quando há soluções renováveis e baratas que garantem empregos, segurança e estabilidade energética", argumentou Guterres.
"Os ativistas pelo clima são retratados como perigosos radicais, mas os radicais são os países que aumentam a produção de combustíveis fósseis. Investir nessas infraestruturas é uma loucura moral e económica", considerou o secretário-geral das Nações Unidas, defendendo que é preciso "triplicar a velocidade da mudança para energia renovável".
António Guterres invocou a "esperança ingénua" com que saiu da última conferência do clima das Nações Unidas, em novembro passado, quando se continua no ponto em que os compromissos atuais de neutralidade carbónica e fim do uso de combustíveis fósseis asseguram "um aumento de 14 por cento em emissões", longe da redução de 45% que permite acalentar o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 graus acima da temperatura média global pré-industrial até ao fim do século.
"E os principais [países] emissores nem sequer estão a dar passos para cumprir estas promessas", salientou.
António Guterres afirmou que se vive uma altura de "turbulência global, desigualdade a níveis sem precedentes, uma recuperação da pandemia da covid-19 escandalosamente desigual, inflação a subir e uma guerra na Ucrânia que faz disparar os preços dos alimentos e dos preços da energia".
"Aumentar a produção de combustíveis fósseis só tornará tudo pior", sustentou, salientando que as escolhas que se fizerem agora ditarão a capacidade de cumprir a meta de 1,5 graus.
"As promessas e planos para o clima têm de ser tornados em realidade e ação agora. É tempo de parar de queimar o planeta e investir na abundante energia renovável que nos rodeia", defendeu.
[Notícia atualizada às 17h14]
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