"Os EUA estão a apoiar uma equipa multinacional de procuradores internacionais para auxiliar diretamente os esforços da unidade de crimes de guerra da Procuradoria-Geral [da Ucrânia] que procura recolher, preservar e analisar provas de atrocidades, e obter uma responsabilização", explicou o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price.
A equipa norte-americana, composta por procuradores e especialistas, está a trabalhar na região, mas não dentro da Ucrânia, acrescentou o responsável em conferência de imprensa.
"Neste momento, a equipe dos EUA está a trabalhar em estreita colaboração com Organizações Não-Governamentais (ONG) e outros parceiros, juntamente com a Procuradoria-Geral da Ucrânia, para documentar (crimes). Este é um trabalho que pode ser feito fora da Ucrânia", referiu.
A comunidade internacional tem reagido à denúncia das autoridades ucranianas da existência de mais de 400 cadáveres nas ruas de Bucha, a oeste de Kiev, no seguimento da ocupação pelas forças russas, situação também documentada no terreno por vários 'media' internacionais.
Ned Price condenou as "imagens aterradoras" de Bucha, após a retirada das forças russas e apontou que "há relatos credíveis" de tortura, violações e execução de civis".
O porta-voz do Departamento de Estado assegurou ainda que os russos deixaram naquele município minas terrestres para "ferir mais civis", e condenou a "negação descarada" feita pelo governo liderado por Vladimir Putin.
"Já dissemos que membros das forças russas cometeram crimes de guerra. As imagens que vimos sugerem que as atrocidades não foram cometidas por um soldado rebelde, mas fazem parte de uma campanha abrangente e preocupante", vincou o porta-voz.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, considerou hoje que Putin deve ser julgado por crimes de guerra, face ao que aconteceu em Bucha.
Os homicídios foram também denunciados pela organização de direitos humanos Human Rights Watch num comunicado publicado este domingo, no qual detalha casos de execuções de civis, ameaças, violações e saques cometidos presumivelmente por soldados russos.
Imagens nas televisões e jornais de dezenas de corpos em valas comuns ou espalhados pelas ruas dos arredores da capital ucraniana, no fim de semana, na sequência da retirada russa, estão a chocar os países ocidentais.
A União Europeia, Espanha, Polónia, Alemanha, Reino Unido, França, Japão, Canadá e Estados Unidos, entre outros, condenaram publicamente e defenderam novas sanções à Rússia.
Moscovo negou hoje "categoricamente" as acusações de "massacre" e "genocídio" relacionadas com descoberta de um grande número de cadáveres de civis em Bucha, nos arredores de Kiev, e anunciou uma "avaliação judicial da provocação" ucraniana.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.430 civis, incluindo 121 crianças, e feriu 2.097, entre os quais 178 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de dez milhões de pessoas, das quais 4,1 milhões para os países vizinhos.
Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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