Intervindo num debate no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, o presidente do Conselho Europeu também manifestou abertura à ideia de a UE conceder asilo aos militares russos que desobedecerem às ordens e baixarem as armas na Ucrânia para não tomarem parte nos crimes de guerra cometidos.
Um dia após a Comissão Europeia ter apresentado a sua proposta de um quinto pacote de sanções à Rússia, à luz das atrocidades cometidas pelo exército russo em Bucha e outras cidades ucranianas ocupadas, mas, entretanto, libertadas e que contempla pela primeira vez a energia, com a proibição da importação de carvão, Charles Michel considerou provável a UE ter de ir ainda mais longe.
"Eu penso que medidas sobre o petróleo e mesmo o gás também serão necessárias mais cedo ou mais tarde", disse, abordando uma questão que divide os Estados-membros.
O presidente do Conselho Europeu observou que depois da devastação da cidade de Mariupol, o mundo pôde assistir agora a "crimes contra humanidade, contra civis inocentes, em Bucha e muitas outras cidades".
"É mais uma prova de que a brutalidade russa contra o povo da Ucrânia não tem limites. É mais uma prova de crimes de guerra, com corpos empilhados em valas comuns. Isto não é uma operação especial, são crimes de guerra. E nós, na UE, não vamos virar as costas, vamos olhar a realidade nos olhos. Tem de haver, e haverá, consequências graves para todos os responsáveis e já estamos a apoiar todos os esforços para recolher provas. Faremos tudo para trazer os perpetradores à justiça internacional", declarou.
O presidente do Conselho Europeu dirigiu de seguida uma mensagem aos militares russos que "não querem fazer parte do assassinato dos seus irmãos e irmãs ucranianos".
"Se não querem ser criminosos, larguem as armas, deixem de lutar, abandonem o campo de batalha. Sei que alguns dos membros do Parlamento Europeu propõem dar asilo aos soldados russos que desobedecerem às ordens. Na minha opinião, esta é uma ideia valiosa que deveria ser explorada", disse.
"Agora, temos de fazer tudo para pôr fim a estas atrocidades", concluiu.
Intervindo a seguir a Charles Michel, a presidente da Comissão Europeia, que na véspera propôs uma proibição de importação pela União Europeia de carvão russo, explicou no hemiciclo o alcance deste quinto pacote de sanções colocado sobre a mesa, que, sublinhou, não será o último.
"Neste ponto crítico da guerra, temos de aumentar a pressão sobre Putin e o governo russo. É por isso que propomos um endurecimento ainda maior das nossas sanções. [...] Vamos impor uma proibição de importação de carvão da Rússia, no valor de quatro mil milhões de euros por ano. Esta é a primeira vez que sancionamos diretamente a importação de combustíveis fósseis da Rússia, cortando assim uma importante fonte de receitas", sublinhou.
Segundo Von der Leyen, "estas sanções são duras, porque limitam as opções políticas e económicas do Kremlin" e "são inteligentes, porque afetam a Rússia muito mais duramente" do que a própria Europa.
"E estas sanções não serão as nossas últimas sanções", acrescentou, argumentando que, "depois de Bucha, mais do que nunca, a Europa mantém-se firme ao lado da Ucrânia".
Von der Leyen observou que, "apenas há sete semanas atrás, Bucha era um subúrbio amigável e tranquilo nos arredores de Kiev, mas na semana passada a própria humanidade foi morta em Bucha, morta a sangue-frio, executada com as mãos atadas e com uma bala na cabeça" e "deixada a apodrecer no meio da rua ou em valas comuns".
"Todos nós vimos as imagens assombrosas de Bucha. E ouvimos os testemunhos daqueles que podem voltar a falar livremente, agora que o exército russo partiu. «Mataram todos os que viram», disse uma testemunha sobre os soldados de [o Presidente russo Vladimir] Putin. É isto que está a acontecer, quando os soldados de Putin ocupam território ucraniano. Eles chamam a isto libertação. Eu chamo a isto crimes de guerra. As autoridades russas terão de responder por estes crimes", declarou.
A Rússia é responsável por cerca de 45% das importações de gás da UE, bem como por cerca de 25% das importações de petróleo e por 45% das importações de carvão europeias.
Na véspera, Ursula von der Leyen revelara que a UE está mesmo já a "trabalhar em sanções adicionais, incluindo sobre importações de petróleo, e a refletir sobre algumas das ideias apresentadas pelos Estados-membros, tais como impostos ou canais de pagamento específicos, tais como uma conta caucionada".
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.480 civis, incluindo 165 crianças, e feriu 2.195, entre os quais 266 menores, segundo os mais recentes dados da ONU.
[Notícia atualizada às 09h32]
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