"O nosso objetivo não é apenas que estas pessoas prestem contas junto dos tribunais, sejam elas instigadoras ou autoras materiais de crimes de guerra, mas também influenciar o curso do conflito", disse Sabine Leutheussen-Schnarrenberger, antiga ministra da Justiça nos governos liderados pelos chanceleres Helmut Kohl e, mais tarde, Angela Merkel.
"O processo cinge-se à lei alemã, mas também ao conceito de justiça universal, que permite a um tribunal na Alemanha investigar crimes contra a humanidade cometidos fora do seu território e mesmo que não haja vítimas alemãs", esclareceu Gerhart Baum, que foi ministro do Interior do antigo chanceler Helmut Schmidt.
Os ex-ministros apresentaram hoje à comunicação social o requerimento da abertura da investigação, um dia depois de o formalizarem perante a Procuradoria-Geral da República.
A denúncia abrange até uma centena de nomes, uma vez que "os crimes de guerra não são questões abstratas, são cometidos por pessoas específicas", enfatizou o jurista Nikolaos Gazeas, conselheiro dos ex-ministros.
Os promotores deste processo consideram que a sua iniciativa "apoia plenamente" outros processos em curso no Tribunal Internacional de Haia ou outros organismos, incluindo os nacionais.
A Procuradoria-Geral da Alemanha já anunciou, no início de março, a abertura de um processo por crimes de guerra relacionados com a invasão da Ucrânia.
Tanto os promotores do processo movido hoje como a Procuradoria-Geral da República alemã pretendem recolher provas entre os refugiados que chegam ao país, mas também de outras fontes, incluindo os meios de comunicação social na Ucrânia.
O semanário alemão "Der Spiegel" noticiou hoje que os serviços secretos alemães gravaram conversas entre soldados russos que alegadamente provam que a morte de civis faz parte da estratégia de guerra da Rússia na Ucrânia.
Os serviços secretos alemães terão captado conversas de rádio relacionadas com o alegado massacre de civis na cidade de Bucha, na região de Kiev, e que mostram que os tiroteios de civis não são ações isoladas de alguns soldados, já que as tropas russas falavam de atos cometidos diariamente.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, condenou quarta-feira, no Parlamento alemão, os "massacres de civis", que descreveu, sem paliativos, como crimes de guerra.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.563 civis, incluindo 130 crianças, e feriu 2.213, entre os quais 188 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,3 milhões para os países vizinhos.
Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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