O representante especial da ONU no Mali, El Ghassin Wane, acusou hoje as autoridades de Bamaco de impedirem uma investigação independente solicitada pela própria missão da ONU (Minusma) sobre o massacre em Moura em 27 de março.
Segundo várias fontes, o massacre foi perpetrado na localidade de Moura, centro do país, por militares malianos apoiados por estrangeiros.
A acusação de Wane foi feita perante o Conselho de Segurança (CS) da ONU em sessão para debater a situação no Mali, caracterizada pela crescente insegurança e pelo prolongamento de uma transição que nem sequer tem data, após os golpes militares em 2020 e em 2021.
Wane disse que a Minusma - com jurisdição sobre os direitos humanos - tentou enviar uma missão de investigação ao local mas "não recebeu autorização" e reiterou que "é imperativo que as autoridades malianas garantam a cooperação necessária com a Minusma para aceder ao lugar das alegadas violações [dos direitos humanos]".
O governo do Mali admitiu que 203 pessoas morreram em Moura, todas descritas como "terroristas", e o seu representante no Conselho de Segurança disse hoje que a operação foi lançada após relatos credíveis sobre uma espécie de conclave de grupos extremistas islâmicos estava em curso.
O embaixador francês na ONU contradisse a versão maliana e sustentou que na operação "teriam morrido centenas de civis" e que "a violência teria sido cometida impunemente por soldados malianos acompanhados pelas forças russas da Wagner", referindo-se à empresa privada de mercenários que opera no Mali, embora o governo de Bamaco não o reconheça oficialmente.
Até agora, a única investigação aberta sobre estes acontecimentos é a do procurador militar de Mopti (capital regional onde se localiza Moura) anunciada quarta-feira, enquanto aumentam as suspeitas de envolvimento das forças armadas, que também foram expressas por representantes dos Estados Unidos, Reino Unido e outros países com assento no CS.
Segundo disse terça-feira a organização não-governamental Human Rights Watch (HRW), o massacre de Moura custou a vida de "cerca de 300 homens civis" e teria sido cometido por soldados malianos na companhia de soldados identificados por várias fontes como russos.
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